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Existe uma cena de Os Sopranos, durante episódio que se passa às vésperas do Natal, em que Tony Soprano (James Gandolfini) aparece sapeando a tevê até cair na enésima reexibição de A Felicidade Não Se Compra (1946), de Frank Capra. "Já chega!", reclama Soprano, visivelmente irritado. No Brasil, a piada fica meio sem sentido. O fato é que, nos EUA, o Natal não é completo sem a imagem de James Stewart no papel de George Bailey, homem que, à beira da ponte (e do suicídio), recebe a visita de um espírito que mostra a ele como seria a vida na cidade caso morresse.

Stewart fica comovido às lágrimas – da mesma forma, o público – e decide voltar para sua família. A visita de espíritos reaparece em Os Fantasmas Contra-Atacam, de 1988 (e lá se vão quase 20 anos), inspirado em "Conto de Natal", de Charles Dickens. O empresário mau-caráter Francis Xavier Cross (Bill Murray), indiferente ao espírito natalino, não se importa de maltratar funcionários e fazer pouco da família. Como Ebenezer Scrooge, no conto de Dickens, ele recebe a visita não de um, mas de três espíritos – do passado, do presente e do futuro. Todos hilários mostram o processo pelo qual acabou se tornando um canalha.

Não é preciso dizer que os filmes natalinos acabam bem. O que importa é o percurso que leva ao fim. É um filão irresistível tanto para produtores quanto para platéias. Todo ano aparece um novo filme de natal. Se não no cinema, em vídeo. Sobrevivendo ao Natal, com Ben Affleck, acaba de ser lançado direto às locadoras. Na história, Affleck interpreta um endinheirado que resolve experimentar o espírito natalino alugando uma família, encabeçada por James Gandolfini (aquele mesmo de Os Sopranos). O filme engorda a lista de títulos naquele que parece um subgênero dos títulos de Natal: os politicamente incorretos.

Nessa linha, Papai Noel às Avessas (2003), de Terry Zwigoff, pulveriza todas as características caras à modalidade. Billy Bob Thornton encarna Willie, um criminoso beberrão que trabalha uma vez por ano ao lado de um anão como Papai Noel, enquanto o pequeno faz o elfo. A intenção da dupla é roubar cofres dos shopping centers na véspera de natal. Eles conseguem isso tendo acesso a áreas que somente funcionários teriam.

O problema é que Willie começa a aparecer travado para trabalhar, maltrata as crianças que sentam no seu colo, fuma, vomita e fala mais palavrões do que qualquer rapper. Enfim, um "papai noel do mal", como sugere o título original Bad Santa. Tipo de programa que não se pode fazer com crianças.

Infantis

Além dos especiais de natal de toda sorte de personagens carismáticos – Mr. Magoo, Os Muppets, Charlie Brown, Mickey, Pluto e outros –, há os filmes que se relacionam com o natal mais ou menos diretamente. Do segundo grupo, se destacam os dois Esqueceram de Mim (de 1990 e 1992), o retrato perfeito do pesadelo e, ao mesmo tempo, do sonho de qualquer criança: ser esquecida pelos pais e ficar sozinha em casa, livre para comer, assistir e brincar com o que quiser.

Mais cultuado do que conhecido, Uma História de Natal marcou crianças em meados dos anos 80. Ralphie Parker (Peter Billingsley) espera convencer seus pais – e o Papai Noel – de que o presente ideal para qualquer menino de sua idade é uma espingarda de pressão Red Ryder, o equivalente hoje a um videogame Playstation portátil (PSP). Ao invés da esperada arma, Ralphie acaba ganhando uma fantasia de coelho rosa, o que consegue ser pior do que ganhar roupa.

Os filmes natalinos são muitos. No Internet Movie Database (www.imdb.com), uma busca com a palavra-chave christmas ("natal") devolve 1.068 títulos. É comum também as obras que ganham refilmagens. Milagre na Rua 34, o clássico de George Seaton com Natalie Wood, teve outras quatro versões. Existem mais de uma dúzia de Quebra-Nozes, do balé ao desenho da Barbie. Os exemplos não acabam mais. O espaço deste texto, sim.

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