Quem canta, a gagueira espanta: Colin Firth (centro) como George VI está bem, mas o filme é de Geoffrey Rush (dir.)| Foto: Divulgação

Ficha técnica

O Discurso do Rei

(The King’s Speech. Reino Unido/Austrália/EUA, 2010). Direção de Tom Hooper. Com Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter. Concorre ao Oscar nas categorias de filme, direção, ator (Colin Firth), ator coadjuvante, atriz coadjuvante, direção de arte, fotografia, figurinos, som, edição, trilha sonora e roteiro original.

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O maior problema com O Discurso do Rei são as 12 indicações ao Oscar. Por causa delas, você entra no cinema e passa a sessão inteira procurando as qualidades que justifiquem o auê e não encontra. O filme é bom, mas superestimado. Talvez fosse uma surpresa agradável se não estivesse cha­mando tanta atenção.

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A produção britânica que tripudia na gagueira de George VI é competente e faz lembrar os grandes trabalhos do diretor James Ivory com o produtor Ismail Merchant (1936-2005), como Retorno a Howards End (1992) e Vestígios do Dia (1993), mas não se compara a eles. A equipe de Ivory é melhor do que a de Tom Hooper.

Colin Firth é um ator de primeira fazendo um personagem detestável. A gagueira não leva George VI a baixar a bola. Ao contrário, a insegurança gerada pelo problema de fala faz do nobre um sujeito arrogante e agressivo, que tolera as pressões e provocações do pai e do irmão para, diante do terapeuta Lionel Logue (Geoffrey Rush, o filme é dele), tentar se impor usando o título e o poder político.

Por sorte, Logue é tranquilo, o sujeito mais camarada do mundo. Quando Rush surge na tela, é um alívio. A simpatia do personagem compensa toda a tensão (e a pretensão) da realeza.

Depois de tentar todos os mecanismos disponíveis para vencer a gagueira e não conseguir resultado nenhum, o nobre havia desistido de lidar com o problema, até que o irmão, Eduardo VIII (Guy Pearce), abdica do trono para casar com uma mu­­lher divorciada. George VI é o próximo na linha de sucessão ao trono e não pode dizer não.

Transtornado pela obrigação de virar rei, apela para o terapeuta de métodos incomuns. Logue usa música, técnicas teatrais, Shakespeare e uma paciência infinita para ajudar o rei. O filme tem momentos engraçados, mas está longe de ser memorável.

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Se as previsões se confirmarem e O Discurso do Rei levar o Oscar de melhor filme, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood estará passando um duplo atestado de incompetência. Além de ser incapaz de produzir uma dezena de filmes marcantes ao longo de um ano (é quase consenso que a seleção deste ano está pálida), acabou escolhendo o mais morno dos finalistas.

No futuro, ninguém vai se lembrar do O Discurso do Rei.

Até o próximo sábado, o Caderno G publica críticas dos dez longas-metragens indicados ao Oscar de melhor filme. Os vencedores serão conhecidos no domingo, dia 27 de fevereiro