Já se escreveu sobre a vida e a obra de Sinatra, talvez, mais do que sobre qualquer outra celebridade do século 20.
Desde sua morte em 1998, já foram publicados mais de 40 títulos importantes, assinados por biógrafos, ensaístas e estudiosos de música que se debruçaram sobre a trajetória do cantor.
Assim, é difícil que algum material produzido em nossos dias traga novas informações relevantes sobre o cantor. Até porque as fontes primárias possíveis contemporâneos de Frankie estão quase todos mortos.
O grande mérito, portanto da biografia Frank, A Voz, de James Kaplan é montar um painel sobre a "primeira fase da carreira" de Sinatra, comparando e medindo informações já publicadas para dar a melhor versão de uma forma muito bem escrita. Kaplan sabe contar uma história (leia mais ao lado).
Três anos após o lançamento nos Estados Unidos, os leitores brasileiros têm a chance de mergulhar nas mais de 700 páginas do livro que se ocupa dos 40 anos iniciais da vida de Sinatra.
Começa no acidentado parto, em um pia do pequeno apartamento dos Sinatra em Hoboken, New Jersey, e termina com as mãos do astro segurando o Oscar de melhor ator coadjuvante por A Um Passo da Eternidade, em 1954.
Ou seja, trata-se da sua construção como cantor, a ascensão vertiginosa, as derrapadas e a primeira grande volta por cima da carreira.
Os outros 40 anos de sua trajetória são tratados em um segundo volume, que deve ser lançado em 2015, ano do centenário dos velhos olhos azuis.
Mulheres
O texto dá grande importância aos aspectos físicos que criaram a dimensão do ídolo que homens e mulheres admiravam. E ao ambiente em que ele a nasceu e cresceu, nos Estados Unidos dos anos 20 e 30, dominados por gangsters que gostavam de farras e jazz. Algo que Sinatra levou até o fim da vida.
A biografia de Kaplan gasta, porém, a maior carga de tinta esmiuçando a relação de Frankie com as três mulheres mais importantes de sua vida. Em primeiro lugar, a conturbada relação com a mãe, Dolly Sinatra.
A mamma Sinatra era uma mistura de líder política e aborteira que tratava o filho único entre mimos e porradas que deixaram marcas profundas na relação dos dois.
Depois, aos 24 anos, Frank se casa com Nancy Barbato, uma namoradinha de adolescência. Com a mulher, teve seus três filhos, Nancy, Frank Jr. e Cristina, que depois teriam carreiras infelizes no show biz
Em primeiro lugar, o casamento com a mulher fatal Ava Gardner, uma relação de amor e ódio que fez a alegria da imprensa sensacionalista americana nos anos 1940.
Em um texto sempre simpático a Frank, há também sua relação com a Máfia, a política, as disputas com os parceiros musicais como Harry James e Tommy Dorsey e o sucesso em escala nunca vista.
Sinatra Facts
Veja abaixo alguns fatos e curiosidades marcantes da vida de Sinatra contados na biografia de James Kaplan:
Parto
Francis Albert Sinatra só veio à luz puxado do ventre da mãe por um fórceps obstetrício. O parto quase o estrangulou e lhe deixou um tímpano furado e cicatrizes no rosto, atrás das orelhas "e até na alma".
Prisão
Frank foi preso duas vezes no início da carreira e pelo mesmo motivo. Foi acusado de "sedução mediante promessa de casamento" por uma namorada barra pesada que não admitia perdê-lo para a recatada Nancy Barbato.
Almofadinha
Ao contrário do que costumava apregoar, Sinatra não foi um pequeno marginal na infância e sim um menino exageradamente bem vestido pela ambiciosa mãe. A pinta de janota o fez sofrer na mão dos maltrapilhos vizinhos dos bairros italianos.
Peruca
Desde que estreou no cinema, em 1943, Sinatra passou a disfarçar a calvície com peruca e maquiar as cicatrizes. Ambos os trabalhos a cargo de Max Factor, lendário maquiador de Hollywood que criou uma famosa linha de cosméticos.
Máfia
A relação de Sinatra com a Máfia é a que gera mais controvérsias. Entre outras histórias, o livro esmiúça uma viagem de quatro dias de Sinatra para Havana em 1947, em companhia dos famosos gângsters Lucky Luciano, Ralph Capone (irmão de Al) e Vito Genovese.
Gaguejada
Segundo o livro, Frank no início da carreira "amarelou" ao vivo duas vezes quando descobriu ídolos na plateia. Uma com Tommy Dorsey e outra quando viu Cole Porter na primeira mesa e engasgou a letra de "Night and Day", clássico do compositor e de seu repertório. Ambos se tornariam amigos e parceiros de Frank.