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Adelstein trabalhou no jornal de maior circulação no mundo, o Yomiuri Shimbun | Michael Lionstar/Divulgação
Adelstein trabalhou no jornal de maior circulação no mundo, o Yomiuri Shimbun| Foto: Michael Lionstar/Divulgação

A máfia japonesa, assim como a italiana, carrega consigo inúmeras imagens e associações, presentes no imaginário coletivo. Entretanto, parece mesmo que o glamour do crime organizado está desaparecendo, com livros e filmes que tratam de mostrar a realidade dessas instituições tão lucrativas. O que o livro Gomorra, do italiano Roberto Saviano fez pela Camorra, a máfia napolitana, Tóquio Proibida – Uma Viagem Perigosa pelo Submundo Japonês, do americano Jake Adelstein faz agora pelas principais organizações criminais nipônicas: um retrato realista dos yakuzas, os mafiosos da terra do sol nascente.

Narrado do ponto de vista de suas experiências no Japão, Jake Adelstein, de família judaica, con­­ta como entrou para a Universidade Sophia, em Tóquio, foi o primeiro gaijin (como são chamados os não japoneses) a ser empregado pelo Yomiuri Shimbun, o jornal japonês com a maior circulação no mundo – cerca de 10 mi­­lhões de exemplares por dia – e caiu direto no setor policial, considerado pelos repórteres japoneses o be-a-bá do jornalismo. Tudo isso no começo da década de 90.

Não demorou muito até que Adelstein aprendesse como funciona o contraditório e absurdo submundo de Tóquio – e as leis igualmente absurdas que o fiscalizam. Leis que permitem qualquer modalidade sexual na prostituição exceto a tradicional, mas condenam a pornografia de qualquer tipo, policiais que avisam com antecedência as batidas que farão nos quartéis generais do crime e a falta de uma legislação que garanta a criminalização das má­­fias.

No jornalismo praticado por Adelstein, vale tudo para conseguir informações privilegiadas ou um furo de reportagem. Levar presente para os policiais, embebedá-los, ou mesmo dormir com uma fonte são práticas descritas como comuns, praticadas por ele e por outros repórteres. É dessa forma que descobre a matéria que o coloca numa cruzada paladina contra um dos maiores chefões do Yamaguchi-Gumi, a maior máfia do Japão: Tadamasa Goto, que conseguiu entrar nos EUA com o apoio do FBI para fa­­zer um transplante de fígado na Universidade de Los Angeles, na Califórnia.

Tóquio Proibida – Uma Viagem Perigosa pelo Submundo Japonês, como o subtítulo diz, escarafuncha as entranhas de uma sociedade comumente descrita como moderna, e não faz a distinção honrosa do yakuza como um homem de princípios, dignidade e lealdade. A máfia japonesa, envolvida principalmente com agiotagem e especulação imobiliária, mescla-se cada vez mais com a sociedade civil, e a linha entre uma organização legal e uma ilegal é cada vez mais tênue. Rompendo todas as regras de conduta, Adelstein afirma que terminou sua jornada sem saber se ainda era o mocinho. Essa dúvida é apenas parte do preço que se paga por fazer o trabalho sujo de mostrar aos japoneses uma realidade dolorosa de se aceitar.

Serviço:

Tóquio Proibida – Uma Viagem Perigosa pelo Submundo Japonês, de Jake Adelstein. Companhia das Letras, 456 págs., R$ 53. GGGG

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