Yasunari Kawabata (1899 1972) recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1968 por "expressar com grande sensibilidade a essência da mente japonesa". As aspas da Academia Sueca definem bem a relação de proximidade que o autor tem com o seu país. Ao contrário, por exemplo, de Yukio Mishima, escritor que está para literatura japonesa como Akira Kurosawa para o cinema. São figuras importantes que se tornaram cultuadas mais no exterior do que na terra natal, talvez por tratarem de histórias que, aos olhos ocidentais, seriam mais "exóticas" e "pitorescas".
Kawabata não. Ele revelou muito do Japão para os próprios japoneses. Um exemplo disso é Kyoto (Tradução de Meiko Shimon. Estação Liberdade, 256 págs., R$ 37,50).
Publicado originalmente como folhetim do jornal Asahi Shimbun, entre 61 e 62, o romance um dos três citados pela comissão do Nobel fala da cidade que foi capital do Japão durante quase um milênio (794 1868). Nascido em Osaka, o escritor teve de realizar uma pesquisa minuciosa para dar conta de costumes, da cultura e do dialeto de Kyoto.
Em linhas gerais, a história tem elementos do melodrama, pois o acontecimento-chave é um encontro acidental entre a protagonista Chieko e a irmã gêmea que desconhecia, chamada Naeko. Adotada por um comerciante de quimonos levado à falência, Chieko conhece a irmã durante um passeio pela aldeia de Kitayama.
Para se ter idéia do volume de informações específicas que pontuam a narrativa, a tradução criteriosa da Estação Liberdade sempre direto do japonês teve de incluir notas de rodapé e um glossário ao final do livro, a fim de dar conta de detalhes como a definição dos "musgos sugigoke" (musgos que lembram um bosque de cedro em miniatura).
Chá
A publicação de Kyoto acontece simultaneamente com a de Mil Tsurus (Tradução de Drik Sada, 176 págs., R$ 29,80). Escrito entre 1949 e 51, livro narra um caso amoroso controverso entre o jovem Kakuji Mitani e a ex-amante de seu falecido pai, a viúva Ota. O pano de fundo é a tradição ligada às cerimônias do chá, em que mulheres são treinadas para servir os homens respeitando uma série de movimentos complexos o casal se conhece durante um desses eventos.
Publicado no Brasil pela primeira vez há três décadas pela Nova Fronteira, com o título Nuvens de Pássaros Brancos (se-guindo a edição francesa), Mil Tsurus ganhou agora uma tradução mais próxima do original: Senzaburu.
Os dois novos títulos de Kawabata entram para um catálogo que conta com A Casa das Belas Adormecidas e O País das Neves. A Estação Liberdade promete lançar, ainda neste ano, A Dançarina de Izu e Contos da Palma da Mão. O primeiro, de 1926, é baseado em anotações autobiográficas e fala de amores impossíveis. O segundo é uma antologia de contos escritos ao longo de vários anos.
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