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PARALELAS

Dois eventos paralelos sobressaem-se na programação do 16.º Festival de Teatro de Curitiba:

MOSTRA GRALHA AZUL - Até 27 de março, as peças indicadas ao prêmio de melhor espetáculo pelo Troféu Gralha Azul serão apresentadas no Teatro José Maria Santos. As concorrentes são as montagens A Queda, com direção de Marcelo Marchioro; Graphic, do diretor Paulo Biscaia; e Werther, de Marino Jr., com Marcel Gritten, indicado a ator revelação de 2006.

MOSTRA NOVOS REPERTÓRIOS – Grupos comprometidos com a pesquisa em artes cênicas e em busca de novos rumos apresentam-se no Teuni – Teatro Experimental de Curitiba. A Pausa Companhia – em cartaz no Fringe com Aperitivos – traz as histórias curtas do drama Menos Emergências. O grupo A Armadilha, que no ano passado angariou elogios com Café Andaluz, encena desta vez a comédia Os Dragões, levemente inspirada nos escritos de Jorge Luis Borges. Mecânica é o espetáculo conduzido pela Companhia Silenciosa e Após Ser Jogado no Rio e Antes de me Afogar, do escritor Dave Eggers, ganha montagem da Companhia Provisória de Teatro.

Silenciem os celulares. Cessem as conversas. Atenção ao palco. É o 16.º Festival de Teatro de Curitiba que está começando. De hoje a 1.º de abril, curitibanos e visitantes perceberão a atmosfera teatral que invade a cidade e tira das tocas um público estimado em 120 mil pessoas – tanto aquelas que aproveitarão o evento para cumprir a ida anual ao teatro, como as que vasculham o guia de programação à procura de companhias, autores, diretores ou elencos que inspirem uma perspectiva de fruição recompensadora.

Colônia Cecília e Os Dois Cavalheiros de Verona inauguram a Mostra Oficial hoje, às 20h30. Mas o festival, na verdade, começa bem antes – desde às 11 horas, quando Navegar ou Onde o Vento Faz a Curva for encenada na Rua XV. Quem tiver astúcia e sorte para desvendar, na profusão de ofertas para os próximos dias, os espetáculos merecedores de atenção, verá algumas das principais montagens curitibanas e uma amostra do que é produzido pelo país.

Às 21 montagens selecionadas pela curadoria para a Mostra Oficial, sob o critério de terem estreado recentemente ou fazerem-no aqui, somam-se as 186 peças que compõem o Fringe – mostra paralela em que "basta querer para participar", como define o diretor do FTC, Victor Aronis. O resultado é um festival de riscos.

"É um evento de grandes apostas no cenário teatral", afirma a curadora Lucia Camargo. Desde abril passado, Lucia e mais três curadores assistiram a montagens e apostaram em estréias futuras para definir a programação oficial de 2007. Um dos critérios que adotaram foi o ineditismo da peça em Curitiba e, pelo menos, em São Paulo ou Rio de Janeiro – indício da menor probabilidade de uma temporada em solo local.

A grandiosidade que caracteriza o Festival de Teatro desde a criação do Fringe torna-o democrático, na visão de Victor Aronis. A mostra tem recebido cada vez mais críticas pelo inchaço, mas o modelo sem curadoria, copiado do Edinburgh Fringe Festival (na Escócia), mantém-se inalterado. Aronis justifica: "Nós já selecionamos as peças da Mostra Oficial. No Fringe, quem vai escolher e dizer se o espetáculo é bom ou ruim é o público", enfatiza.

Maior festival de teatro brasileiro, o FTC divide opiniões entre os profissionais do meio teatral. Para quem vive de dramaturgia no microcosmo curitibano, o evento parece ser a grande oportunidade de projeção e expansão de público, mesmo que as peças debatam-se na atmosfera rarefeita da baixa qualidade geral.

"Muitas vezes, a maioria ruim sobressai-se à minoria e acaba criando um campo de força que dá a impressão de que o festival é só aquilo. Mas existe uma minoria interessante", afirma Edson Bueno. O diretor defende a importância do festival pelas possibilidades de contatos que propicia. "Hoje, existe uma comunicação maior com São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte. Conhecemos diretores e jornalistas de diversos lugares do país. No ano passado, encenamos Capitu – Memória Editada e, por conseqüência, vamos viajar do Rio Grande do Sul ao Acre com a peça.", conta.

Andrei Moscheto, diretor do grupo Antropofocus, ecoa: "Como nós somos artistas fora dos focos principais, o festival é uma boa oportunidade de mostrarmos o nosso trabalho. Foi assim que o Grupo Galpão e a Sutil Cia. de Teatro ficaram conhecidos.", diz. "Além disso, foi graças ao aumento de movimentação que o festival deu à cidade, que hoje temos uma quantidade maior de técnicos de luz e cenógrafos", completa.

Comparado a outros festivais de teatro que adquiriram relevância nacional, o que distingue o FTC é a opção pela variedade. Para o diretor Márcio Abreu, que já esteve à frente de Suíte 1, no Fringe, e Daqui a Duzentos Anos, na Mostra Oficial, o Festival de Teatro de Curitiba ainda é representativo na cena brasileira. "O esquema de produção e o tipo de curadoria o diferencia dos demais festivais do país, que são tão importantes quanto, mas têm menos peças, maior presença internacional e permitem mais trocas entre os artistas, justamente por serem concentrados. São propostas diferentes"., argumenta.

"Parece que festivais como o Filo, de Londrina, o Porto Alegre em Cena e o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto têm perfis menos comerciais e estão mais preocupados não só com a qualidade, mas também com a formação do público e dos artistas, através de encontros, eventos paralelos, seminários e oficinas", critica Fernando Kinas, diretor do grupo Kiwi, de São Paulo. "Isso é ruim para o festival, mas faz parte do perfil que o FTC foi tomando.", opina.

À parte as críticas, o espetáculo já começou.

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