Hoje, vive-se uma época marcada pela proliferação de reality shows na televisão e documentários nos cinemas. Essa avidez pela realidade é um fenônemo recente de público e da mídia, mas não era nada comum nos anos 70, quando um americano resolveu retratar seu cotidiano em uma revista em quadrinhos.
A diferença para grande parte do que se produz sobre a "vida real" atualmente é que suas histórias são realmente interessantes, apesar de revelarem o monótono dia-a-dia de uma cidade americana sem muitos atrativos. O ponto de vista era o de um arquivista de hospital algumas vezes ranzinza, outras paranóico, mas com um olhar muito crítico do que acompanhava ao seu redor. Esse é o retrato da graphic novel American Splendor, que transformou seu autor Harvey Pekar em um dos principais nomes dos quadrinhos americanos.
Praticamente desconhecido no Brasil, o escritor só foi descoberto pelo grande público através do docudrama O Anti-Herói Americano, de Shari Springer Berkman e Robert Pulcini, premiado em vários festivais internacionais como o Sundance e indicado ao Oscar de 2003. A ótima fita disponível em DVD conta a vida do escritor através de seus depoimentos, alterando seqüências documentais com outras encenadas, em que Pekar é encarnado por um inspirado Paul Giamatti (Sideways Entre Umas e Outras).
Mas aqueles que se interessaram pelo personagem não puderam acompanhar melhor seu trabalho, pois American Splendor ainda não recebeu edição nacional. Essa falha começa a ser corrigida, em parte, com o lançamento no país de Bob & Harv Dois Anti-Heróis Americanos (Conrad Editora. 104 pág. R$ 33), uma coletânea dos textos de Pekar que ganharam o traço do cultuado quadrinista Robert Crumb Fritz, de The Cat, Mr. Natural e outros diversos títulos já editados no Brasil pela mesma Conrad.
A dupla se conheceu nos anos 60 em Cleveland, cidade natal de Pekar, descobrindo gostos em comum como o jazz e os próprios quadrinhos. Mas a parceria profissional só aconteceria nos anos 70, quando Crumb que já vivera um grande momento de fama, tornando-se um dos ícones da contracultura nos EUA andava em baixa e Harvey buscava alguém de renome para se lançar como escritor de quadrinhos. A história do divertido e "delicado" pedido de Pekar para o amigo desenhar sua revista é um dos destaques de Bob & Harv. O livro apresenta os tradicionais temas de Pekar e destaca a veia ácida da dupla ao falar sobre política (principalmente sobre a Guerra do Vietnã), economia, racismo e revolução sexual.
Além de Crumb, a American Splendor recebeu o traço de outros grandes artistas do gênero underground, como Paul Mavrides e Spain Rodriguez (Zap Comix), além de nomes mais atuais dos quadrinhos como Joe Sacco (Palestina Uma Nação Ocupada) e Alan Moore (roteirista dos clássicos Watchmen e V de Vingança, que fez uma rara incursão no desenho em uma história de Pekar).
A expectativa é que a revista finalmente seja editada no Brasil. A publicação (que não tem uma periodicidade certa) já recebeu prêmios importantes como o American Book Award pela edição em que Harvey conta sua luta contra um câncer linfático. As filmagens do documentário também ganharam uma revista especial do autor.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026
Deixe sua opinião