A trilogia que a Téssera, companhia de dança contemporânea da Universidade Federal do Paraná, está criando para comemorar seus 30 anos traz um fato inédito: transporta o estranhamento da obra de Bertolt Brecht para uma coreografia. Só em Acapulco (confira o serviço completo do espetáculo) é baseada no período de exílio do dramaturgo alemão nos EUA, no início dos anos 40.
"Dissemos eba, mais um desafio. Foi difícil criar sem ter um texto sobre o assunto", conta o coreógrafo da companhia, Rafael Pacheco. "Fizemos um estudo da trajetória e do processo de criação dele, o que nunca foi feito com dança. É um tema que já apareceu em peças, e ele chegou a fazer óperas, mas dança, não."
O trabalho que estreia hoje no Teatro da Reitoria não pretende contar a história do dramaturgo alemão nem de seu período norte-americano, e sim transportar para os dias de hoje o que ele teria sentido ao chegar a uma terra tão diferente da sua: estranhamento, para usar uma palavra que define a estética brechtiana.
"Como as pessoas são esquisitas, como é diferente o cheiro delas... ele teve um estranhamento forte", imagina Pacheco.
Tudo isso foi atualizado para problemas cotidianos, como a pressão trazida pela tecnologia e as relações virtuais. Brecht aparece encarnado no palco, sofrendo com temas como a solidão e o contexto muito diferente do seu.
"Queremos mostrar como ele se relacionou com essa nova cultura e criou arte em meio a ela", conta o diretor da Téssera.
Só em Acapulco, cujo título remete mais a um local estranho do que à cidade mexicana, tem trilha sonora composta por Cesar Sarti e projeto de iluminação de Luis Tschannerl.
Balzaquiana
As comemorações da Téssera começaram em abril, com Arthur, e terminam em novembro, com uma coreografia inspirada na peça Valsa n.º 6, de Nelson Rodrigues, que completaria 100 anos em 2011. A escolha se deu pelo fato de a UFPR completar a mesma idade neste ano.
Quando acabarem, as três montagens de aniversário terão sido muito diferentes uma da outra, mas com a coincidência de se inspirarem em narrativas, já que outras fases da companhia foram mais abstratas.
"O que nos interessa é saber o que está mexendo com o imaginário das pessoas. Se são vampiros, quem sabe vamos criar algo sobre isso", brinca. A companhia de dança conta hoje com 25 bailarinos e é aberta a pessoas ligadas ou não à UFPR.
Serviço
Só em Acapulco (confira o serviço completo do espetáculo). Teatro da Reitoria (R. XV de Novembro, 1.299), (41) 3360-5066. De hoje a domingo, às 21 horas. Entrada franca.
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