O cinema de Tim Burton é um dos mais emblemáticos de sua geração. Desde que ganhou a atenção da mídia, no final dos anos 80, com a hilariante e estilosa comédia Os Fantasmas Se Divertem, o cineasta virou uma espécie de superstar da direção, com direito a fãs ardorosos e um número razoável de sucessos de bilheteria no currículo, como Batman, Batman O Retorno, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e O Planeta dos Macacos. O segredo de sua popularidade: a habilidade de criar na tela mundos paralelos. que têm como marcas registradas uma estética rebuscada, com referências quase sempre góticas, e a alienação social de seus protagonistas.
Nem sempre, contudo, Burton acerta no alvo. Se Ed Wood e Edward Mãos-de-Tesoura são obras ao mesmo tempo instigantes e tocantes tanto em termos de forma como de conteúdo, Peixe Grande, Planeta dos Macacos e A Noiva-Cadáver (seu trabalho mais recente) tropeçam em suas pretensões e resultam em filmes ocos. Belos e bem-realizados, porém vazios de significado. O ótimo A Fantástica Fábrica de Chocolates, que acaba de ser lançado em edição dupla em DVD, pertence ao primeiro grupo, felizmente
Ao readaptar o clássico infantil do escritor britânico Roald Dahl. que já havia sido filmado em 1971, Burton consegue um equilíbrio quase perfeito entre uma narrativa envolvente, personagens cativantes e concepção visual deslumbrante e muito original. A história continua a mesma: Willie Wonka (Johnny Depp, em grande forma), o solitário e excêntrico dono de uma indústria chocolateira, resolve, depois de muitos anos, abrir as portas da sua fábrica para um grupo limitado de visitantes. Terá passe livre quem encontrar, na embalagem dos produtos Wonka, bilhetes dourados.
Cinco crianças e seus respectivos acompanhantes ganham o direito de saber o que se esconde por trás da misteriosa fortaleza doce do magnata esquizóide, mas o privilégio pode se revelar um pesadelo.
Espécie de fábula moral, tanto o livro quanto o filme nele baseado (vale dizer que se trata de uma adaptação mais fiel do que a de 71) discutem valores humanos fundamentais. Das cinco crianças sorteadas, quatro são a encarnação da indulgência e da permissividade difundidas no mundo contemporâneo, território da ética relativa e do individualismo exacerbado. Comem demais, querem tudo que vêem pela frente e não têm o menor senso de soliedariedade. Apenas Charlie, um garoto pobre e humilde, não se deixa seduzir pelo canto de sereia do materialismo canibal. Talvez por isso o menino pareça descolado de seu tempo, lembrando um personagem do passado.
Embaladas pela inspirada trilha sonora de Danny Elfman, as histórias de Charlie e Wonka, que jamais conheceu amor e compaixão em sua existência, se entrelaçam em um belo espetáculo cinematográfico. Para crianças de 8 a 80 anos. GGGG1/2
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