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Selton Mello venceu como o melhor diretor por conta do trabalho em O Palhaço | Divulgação
Selton Mello venceu como o melhor diretor por conta do trabalho em O Palhaço| Foto: Divulgação
  • Tropa de Elite 2: elogio da crítica nos Estados Unidos pode levá-lo ao Oscar

Em cartaz desde 28 de outubro, ou seja, há pouco mais de três semanas, O Palhaço, segundo longa-metragem dirigido pelo também ator Selton Mello, já ultrapassou um milhão de espectadores no país, e continua fazendo um bom público. Lançado com 80 cópias e atualmente em exibição em 250 salas, ocupando um circuito 75% menor do que o blockbuster Amanhecer – Parte 1, que estreou nessa última sexta-feira em 1.100 telas, o filme já pode ser considerado um dos sucessos do cinema nacional em 2011.

O que torna a performance de O Palhaço ainda mais notável é o fato de que, ao contrário de outros longas brasileiros que fizeram bonito nas bilheterias neste ano, como Cilada. com ou Qualquer Gato Vira Lata, o filme de Selton Mello não é uma comédia calcada na linguagem televisiva. Está certo que o pé-quente de seu diretor e protagonista, astro de êxitos comerciais como Lisbela e o Prisioneiro e Meu Nome Não É Johnny , deve ter feito alguma diferença. Mas não é esse o segredo do apelo da produção.

Se em Feliz Natal, primeiro longa de Selton, o ator parecia muito preocupado em mostrar seu estilo como diretor, o que acabou prejudicando o resultado final (com qualidades mas irregular na narrativa e na condução do elenco), ele acertou em cheio em O Palhaço. Tanto em frente quanto atrás das câmeras.

É muito tocante a história de Benjamin, o palhaço melancólico, algo deprimido, vivido com brilho por Selton. Filho de Valdemar (Paulo José), com quem contracena no picadeiro, ele também divide com o pai, dono do circo, responsabilidades práticas e administrativas da trupe, que se apresenta nos rincões mais profundos do país. Cabe a ele desde conseguir arranjar um sutiã tamanho grande para a palhaça Zaira (a sensacional Teuda Bara, do Grupo Balcão, de Belo Horizonte) até tentar providenciar um ventilador que refresque um pouco a vida suada dos mambembes. Acontece que Benjamin já não dá mais conta de seus conflitos pessoais, da profunda solidão em que se sente mergulhado.

Recorrendo a uma estética que, a exemplo do cinema de um Jean-Pierre Jeunet (o diretor francês de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), assume um tom retrô poético que beira o surrealismo, Selton contrói uma história simples, comovente, mas jamais superficial e apelativa. Para isso colaboram muito a belíssima fotografia de Adrian Teijido, de cores saturadas e exuberantes, e a inventiva direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, marcada pelo anacronismo e por um certo paladar kitsch. Esses elementos criam a atmosfera mágica onde circulam o rico conjunto de personagens de O Palhaço, vivido por um elenco de coadjuvantes afinadíssimo.

Mas é a direção e o roteiro – este escrito a quatro mãos com Marcelo Vindicato – que emprestam ao filme uma qualidade até difícil de ser explicada. Embebido na tradição de humor verbal do cinema popular brasileiro, que homenageia do início ao fim, o filme é também supermoderno em sua execução, na manipulação dos silêncios, na construção das cenas e dos planos, alguns memoráveis de tão bonitos. E jamais subestima a inteligência do público, mostrando que ele não precisa ser tratado sempre como telespectador em busca de diversão descartável, conforme têm feito outras produções nacionais de sucesso ultimamente.

Oscar

Caso fosse o representante do Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar, talvez tivesse chances de figurar entre os finalistas, porque consegue ser ao mesmo tempo profundamente brasileiro e universal tanto do ponto de vista estético quanto temático. Tropa de Elite 2, contudo, também tem possibilidades de figurar entre os indicados, se depender das ótimas críticas que vem recebendo nos Estados Unidos, onde estreou há dez dias depois de também ter recebido elogios unânimes no Reino Unido.

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