| Foto: Camila Tebet

Neste último domingo (7) a 22ª edição do Festival de Teatro chegou ao fim. Mais de 220 mil espectadores passaram por Curitiba em 13 dias com 406 espetáculos.

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O Teia Notícias saiu pelas ruas da capital paranaense conversando com os artistas das peças de rua e do Fringe para saber o que os artistas pensam do Festival e do público curitibano. "Ninguém aqui renega o trabalho de outros estados. Para a nossa companhia, estrear peças na capital é começar bem a temporada". É o que diz o ator e diretor do grupo "Gota, Pó e Poeira" Carlos Ola, que vem para Curitiba há dez anos e se apresentou na peça "A saga amorosa dos amantes Píramo e Tísbe". Ele conseguiu negociar o transporte com o governo do Espírito Santo e prefere se apresentar na rua por conta da visibilidade.

O diretor só lamenta a dificuldade com o transporte. O gasto com a peça já é muito maior que o lucro sem um grande cenário, o que impede uma produção maior. "A gente vem de avião ou de ônibus, então não tem como trazer o cenário, coisas que grandes companhias patrocinadas por grandes empresas têm".

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Quando Carlos Ola diz que estrear aqui é começar bem a temporada, não é à toa. "Nos últimos anos a gente tem feito as peças na rua. Fizemos a Megera Domada, por isso conseguimos ter algumas pessoas que acompanham o nosso trabalho aqui em Curitiba e sabem da linha de deboche, da brincadeira com o público".

O ator e diretor já conhece e gosta dos espectadores da capital. "Falam que o povo curitibano é fechado, mas não vejo dessa forma. Aqui as pessoas entram no jogo, é um público legal, que compartilha e nos recebe de uma forma carinhosa."

Eliane Correia, atriz da mesma peça que Carlos, acredita que o povo de Curitiba não se inteirou muito sobre o Festival: "Percebi que a divulgação deste ano não estava tão boa como nos outros. Não estamos vendo muita movimentação nesta questão de teatro e o pessoal não está vindo em grande quantidade".O ator e diretor Bruce Gomlevsky (atualmente indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator e aos Prêmios APTR de Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Ator por "O Homem Travesseiro"), do Rio de Janeiro, considera o Festival de Teatro um grande acontecimento no Brasil. "Em termos de Teatro, é um festival importantíssimo".

Gomlevsky trouxe três peças para Curitiba, duas delas na Mostra Principal: "Homem travesseiro", "Médico e o monstro" e "Aos domingos" no Fringe. Ele diz que o público carioca adora uma comédia e quer rir a qualquer custo. Já o público curitibano presta muita atenção na história e quer absorver cada segundo. Segundo ele, são pessoas muito concentradas, independente do gênero da peça. Juliana Teixeira, atriz de "Aos domingos" diz que os espectadores de Curitiba são exigentes. "É um público acostumado com o teatro de altíssima qualidade e de grande diversidade, proporcionada pelo próprio Festival".

O gaúcho Márcio Silveira, ator da peça do Fringe "João Pé de Chinelo", acredita que o Festival é uma boa vitrine, mas é preciso ter pé quente: "O Fringe é uma incógnita, tem que dar sorte. Na minha primeira apresentação teve um pessoal de uma prefeitura que organiza um grande festival muito importante no sul do Brasil que assistiu". É a terceira edição que ele participa e o que mais chama a atenção é a troca com os outros atores. Ele afirma que quem organiza o Fringe deveria dar uma atenção maior em permitir que os grupos fiquem mais tempo ou tenham um intervalo para conversar e trocar ideias. Pelo fato de Curitiba ser mais fria, Márcio Silveira diz que é necessário um tempo para recuperar a voz, prejudicada não só pelo clima, mas pelo fato da peça de rua ser mais desgastante.

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O ator gaúcho ainda diz que, justamente por Curitiba ter esse clima diferente, a interatividade aqui é menor. "Eu passei quatro dias na Bahia. Quando você ainda está montando o cenário, umas 15 pessoas param para saber o que está acontecendo. Aqui em Curitiba o pessoal passa, espia, mas poucos perguntam. A curiosidade é menor e há um distanciamento". Vagner Cotrim, ator da peça "Ô de casa", direcionada para o público infantil, enfrentou 12 horas de viagem para se apresentar. Ele veio de Barretos, interior de São Paulo e considera fundamental a visibilidade proporcionada pelo Festival. "É o maior festival de teatro do Brasil e é importante vir se apresentar aqui".

Apesar disso, para Cotrim, o melhor do Festival é o contato com outros artistas. Da mesma forma que Márcio Silveira, ele concorda que a troca é a parte mais interessante de se apresentar na capital. "Como estão todos hospedados no mesmo local, temos o privilégio de assistir espetáculos, fazer amigos que são de outros estados, trocar contatos e conhecer pessoas. É fantástico", afirma o ator.