O governador Moisés Lupion (ao centro, de óculos) homenageia a equipe da Rádio Clube Paranaense| Foto: Fotos: Arquivo pessoal/ Claudete Rufino

Cronologia

Do improviso aos grandes espetáculos. Confira parte da história da Rádio Clube Paranaense

1924 – No dia 27 de junho de 1924, é realizada a primeira transmissão da Rádio Clube Paranaense. O feito ocorre na residência de Francisco Fido Fontana, à Avenida João Gualberto,

1933 – A rádio transfere-se para o Alto São Francisco. Na nova sede, recebe o primeiro prefixo (PRAN) e, em1935, o apelido que a tornaria conhecida em todo o Brasil: PRB-2

1934 – O então proprietário Severiano Justi vende a empresa a um grupo de empresários liderado por Epaminondas Santos.

1936 – Transfere-se para a Rua Barão do Rio Branco, onde permanece até 1973 e vive seus momentos mais brilhantes.

1940 – Programas de auditório, como o Carrossel de Atrações – que Ubiratan Lustosa apresentava em companhia de Mário Vendramel – começam a sair do papel.

1947 – Artistas locais, como Dora Lissa, Zezé Ribas e Iracema Celli, começavam a despontar. Para acompanhar os cantores, músicos importantes, como Augusto Antonello e Athaide Zeike.

1950 – Começa a batalha pela audiência com as recém-criadas rádios Marumby e Guairacá. Com transmissores mais potentes e uma equipe que já havia cativado o público paranaense, a Rádio Clube continua na liderança.

1957 – A programação torna-se sólida e reconhecida. Há o Revista Matinal, programa de notícias diário e matutino. Nas manhãs de domingo, Souza Moreno comanda o infantil Cineac Rádio. À noite, o Programa Sérgio Fraga lotava o auditório.

1960 – O radioeatro e as radionovelas aumentam consideravelmente a audiência. Comandada por Ivo Ferro, a rádio chega a ter 13 novelas no ar simulteamente. A atração principal é reservada para os domingos, às 20 horas.

1966 – A B2 é adquirida por Luiz Gonzaga de Freitas, o Gonzaguinha. O novo dono mantém toda a programação e a equipe da rádio, mas enfrenta uma fase difícil devido ao surgimento de novas rádios e, principalmente, do surgimento da tevê.

1973 – Os padres Paulinos, já com emissoras em São Paulo, adquirem a Rádio Clube Paranaense. Para administrá-la, cria-se a Fundação Nossa Senhora do Rocio – homenagem à padroeira do Paraná.

1986 – Com apelo popular, a B2 volta a obter grande audiência. São destaques o programa policial das manhãs e as jornadas esportivas sob o comando de Lombardi Júnior.

1992 – A B2 passa a integrar o grupo Lúmen, que também gerencia as tevês Lúmen e Futura e as rádios Lúmen FM e Clube FM.

2008 – A rádio deixa de produzir conteúdo próprio e passa a retransmitir integralmente o sinal da rádio Eldorado AM de São Paulo, emissora integrante do Grupo Estado.

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A cantora Claudete Rufino, entre Mário Vendramel e Roberto Martins: premiação em 1957
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Era um domingo de inverno na década de 1960. Quase mil pessoas – com seus respeitáveis chapéus e estilosas cigarrilhas – aglomeravam-se em frente de um prédio da Rua Barão do Rio Branco, quase esquina com a Rua Marechal Deodoro, no centro de Curitiba. Na sacada, Orlando Silva cantava "Rosa de Maio" e olhava para baixo, com expressão surpresa. Enxergava homens e mulheres espremidos na calçada: eram os que não haviam conseguido entrar no lotado auditório da Rádio Clube Paranaense para acompanhar o "acontecimento da cidade".

A famosa PRB-2 marcou época. É lembrada com saudosismo por diversas gerações, seja por sua programação cultural, noticiários, mas também pelo esporte, destaque na programação da primeira rádio de Curitiba.

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Oitenta e quatro anos e dois meses depois, foram demitidos oito funcionários (entre jornalistas, assistentes, auxiliares de produção e apresentadores) contratados pela Fundação Nossa Senhora do Rocio – mantenedora da rádio desde outubro de 1973. A programação produzida em Curitiba foi extinta e a parceria com a rádio Eldorado, que por sua vez pertence ao Grupo Estado, foi reforçada.

Para os que fizeram carreira na emissora, uma lástima. Uma pena imensurável. Para o grupo Lúmen, do qual a Rádio Clube é integrante desde 1992, a medida é uma forma de manter a rádio viva.

"Temos um carinho muito grande por esta rádio e queremos deixar claro que ela não acabou. Nós tentamos várias alternativas na programação, mas não deu certo. Então fizemos uma parceria para ganharmos em conteúdo e economizarmos em estrutura", disse o diretor do grupo Lúmen, Armando Celi Júnior.

Passado

A trajetória da Rádio Clube começa no dia 17 de junho de 1924. Às 11 horas da manhã, na Mansão das Rosas, como era conhecida a residência do ervateiro Francisco Fido Fontana, a primeira transmissão foi realizada. A Lívio Gomes Moreira, estusiasmado radioamador, foi creditado a maior parte do feito. A PRB-2 nascia, então, como a primeira rádio do Paraná e a oitava do Brasil.

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"Competir com a Rádio Nacional era uma temeridade na época, mas nós a enfrentamos. Por algum tempo, conseguimos ter audiência maior no horário das 13 horas, dedicado às novelas", disse Ubiratan Lustosa, que trabalhou por mais de 30 anos na B2. Em meados da década de 1960, os programas produzidos pela emissora passavam de 15. "Nós criamos inovações. Fazíamos quadros rápidos, misturando humor, radionovelas e musicais", disse o radialista, hoje aos 78 anos. Além da apresentação de Orlando Silva, na sacada da emissora, Vicente Celestino, Carlos Galhardo e até os Demônios da Garoa, em início de carreira, dividiram o palco com artistas locais, como a curitibana Claudete Rufino. Sua voz a impulsionou. Cantou ao lado do maestro Bento Mossurunga e recebeu diversos prêmios e benefícios para continuar seus estudos musicais. Mas antes, devido à pouca idade, teve de driblar a Justiça.

"Eu era muito menina e só consegui me apresentar pela primeira vez porque consegui ordem judicial", contou Claudete, que trabalhou na rádio por 24 anos e que foi enviada pela Clube a grandes eventos radiofônicos no Rio e em São Paulo. "Aquilo era uma família. Era um tempo em que existiam pessoas de sensibilidade e que realmente gostavam do que faziam. É uma pena que tenha acabado", disse a cantora, hoje com 74 anos.

Radionovela para as mulheres e esporte para os homens. As transmissões futebolísticas também fizeram história na B2. Foi em suas ondas que um Atletiba foi transmitido pela primeira vez, em 1933. "Em 1974, na Alemanha, fomos os primeiros paranaenses a cobrir uma Copa do Mundo ao vivo. Tínhamos equipamentos atualizados e muito potentes. A rádio era a bússola de quem acompanhava o futebol e é lamentável o estado em que se encontra hoje," disse Airton Cordeiro, ex-locutor e cronista da Gazeta do Povo. Já na década de 1980, a voz de Lombardi Júnior saía dos estádios e ecoava pela cidade, caminhando pelas ondas curtas da B2. Avanços tecnológicos, mudanças na diretoria e diversas crises depois, a Rádio Clube chegou a seu limite.

"Saudosismo não paga conta. Toda emissora precisa se manter de alguma forma. A rádio não foi extinta nem vai mudar de nome, mas agora é afiliada à rede Eldorado. Vamos transmitir notícias de Curitiba para todo o Brasil", complementou Armando Celi Júnior, diretor do grupo Lúmen há cinco anos.

Não haverá mais shows em sacadas, nem auditórios lotados. Mas a Rádio Clube AM continuará a existir, ao menos ali, onde o marcador aponta 1430 kHz.

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