O futebol entre as linhas dos quadrinhos

• 0

Em junho de 1982, a zaga brasileira rebate mal, a bola é devolvida à área brasileira e Paolo Rossi decreta o fim da inocência nacional. Em 1978, o Atlético perdia para o Colorado (hoje Paraná Clube) por 4 x 0. Faltavam 15 minutos para o fim do jogo e muitos torcedores já deixavam a antiga Baixada quando o centroavante Ziquita, possuído por um bom demônio, empatou o jogo lendário. Estas histórias que fazem parte do imaginário dos fãs de futebol e sempre são contadas em bares e arquibancadas estão agora reunidas em quadrinhos no livro Entre 4 Linhas – Quadrinhos e Futebol lançado mês passado em Curitiba.

A obra, que será relançada na sexta-feira, 13, durante um Encontro de Ilustradores, traz 16 histórias em quadrinhos e mais tiras, ilustrações e charges com o tema futebol. O resultado, no entanto, não agrada apenas aos aficionados do esporte. O organizador do livro, o desenhista e artista plástico Fabrizio Andriani, convocou 32 artistas gráficos de vários pontos do país, e até um argentino, para escrever sobre o universo do futebol de forma ampla.

"A ideia foi explorar o aspecto cultural do futebol, como ele faz parte do dia a dia das pessoas. E os quadrinhos são um suporte ótimo para retratar este universo. É um livro que tem algo a dizer para quem gosta muito e também para quem não é fanático por futebol", explica.

Produzido por artistas de gerações e estilos gráficos diferentes, o esquema tático do livro tem formações diversas e circula por várias linguagens e estilos narrativos – aventuras fictícias, histórias reais, desenhos infantojuvenis, charges e tiras.

"São várias linguagens diferentes, a temática é bem aberta. Tem desde zumbis até histórias de pais e filhos", avalia Ibraim Roberson. O artista, que trabalhou por quatro anos desenhando os mutantes da série X-Men para a Marvel Comics, é o autor do desenho da capa do livro.

O paraense Joe Bennett, que continua desenhando super-heróis como Capitão América e Homem-Aranha para a Marvel, participa do livro com uma história de herói.

A lista de autores inclui ainda paranaenses consagrados no quadrinho nacional, como Leonardo Melo, André Ducci, Antonio Éder, Guilherme Caldas, Priscila Vieira, os cartunistas Thiago Recchia e José Aguiar e o chargista Ademir Paixão, os três últimos, colaboradores da Gazeta do Povo.

Há também a participação de escritores que colaboraram com roteiros – o da Copa de 1982, citado no primeiro parágrafo deste texto, foi escrito por Joca Reiners Terron. O escritor curitibano Eduardo Visioni conta a história autobiográfica "O Torto e Eu", sobre um menino de pernas tortas que usava botinas ortopédicas para jogar bola na infância e hoje, maduro, repassa a sua vida no balcão do Torto Bar – o museu etílico em homenagem a outro menino de pernas tortas (Garrincha) no centro histórico de Curitiba.

Livro antecipa cenas de filme inédito e revê Maciota

Entre as muitas HQs que compõem o livro Entre 4 Linhas destaca-se a adaptação para quadrinhos de algumas cenas do roteiro do novo filme do cineasta curitibano Marcos Jorge (Estômago, 2007). Em fase de produção, o filme vai se chamar Mundo Cão e será estrelado pelo ator Lázaro Ramos. As cenas adaptadas para o livro pelo quadrinista Walkir Fernandes são ambientadas no estádio Pacaembu, em São Paulo, e mostram o desenrolar de um sequestro durante uma partida do Palmeiras.

Outro destaque é a presença de tiras do personagem Maciota, que faziam muito sucesso com os leitores da revista Placar, onde eram publicadas, na década de 1980. Maciota é um jogador de várzea, perna de pau e mau caráter, que depois das derrotas sempre aparecia no bar bebendo muito e achando culpados para seus fracassos. Foi criado, inicialmente, com o nome de Maloca, pelo cartunista Paulo Paiva, no final dos anos 1970. Paiva foi um dos precursores em trabalhar o tema futebol nos quadrinhos. Era ele quem escrevia as histórias do time de futebol da turma do personagem Zé Carioca para a Disney/Abril.