Cildo Meireles
Ouvir o Rio mostra projeto do artista em busca do som das águas
Além de Cidade Cinza, outro filme em cartaz no Espaço Itaú de Cinema aborda o mundo das artes. Ouvir o Rio: Uma Escultura Sonora de Cildo Meireles, dirigido por Marcela Lordy e produzido pelo Itaú Cultural, fala sobre a busca pelo som da água feita pelo artista carioca. A entrada é franca e o filme fica em cartaz em Curitiba até o dia 5 de dezembro.
O longa, primeiro documentário da diretora, detalha o processo do projeto rio oir, apresentado em 2011 no Itaú Cultural, mas iniciado pelo artista em 1976, com a captação do som das bacias de rios.
Em 2009, diante da necessidade da captação in loco, foi montada uma expedição e a equipe viajou pelo Brasil nesta busca minuciosa, detalhada no filme. Meireles estipulou quatro locais para a captação dos áudios: a Estação Ecológica de Águas Emendadas, próxima a Brasília; as Cataratas do Iguaçu; a foz do rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe; e a pororoca do rio Araguari, no Amapá.
Qual a influência que o grafite exerce sobre uma metrópole cinza como São Paulo? Apesar de a street art ter ganhado espaço no país e no exterior, a arte feita nas ruas ainda tem muitas barreiras e preconceitos para quebrar. E é esta a discussão proposta pelo documentário Cidade Cinza, de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, em cartaz desde a última sexta-feira, 22, no Espaço Itaú de Cinema (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).
Os diretores partem do trabalho de artistas consagrados, como a dupla Os Gêmeos (Otávio e Gustavo Pandolfo), Nina Pandolfo, Nunca, Ise, Finok, Zefix, entre outros, para refletir sobre como o grafite interfere positivamente no caos urbano.
O filme traça, ainda, um rápido resgate histórico sobre o movimento no Brasil e traz algumas particularidades interessantes. Pela falta de material nos anos 1980, por exemplo, muitos artistas utilizavam (e usam até hoje), tinta e rolo ao invés de apenas o spray, o que tornou o grafite nacional único.
Entretanto, o que Cidade Cinza consegue apontar é ainda mais amplo: a carência cultural e a falta de planejamento urbano nas grandes cidades.
Um dos episódios retratados no filme é um impasse que o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teve com a dupla Os Gêmeos e outros artistas em 2008. Parte de um painel pintado pelos artistas na ligação entre as zonas leste e oeste da cidade, patrocinado, foi apagado pela prefeitura. Detalhe: a obra tinha sete metros de extensão.
No documentário, esse embate está presente o tempo todo. De um lado, os artistas, a maioria consagrados internacionalmente Nina, Os Gêmeos e Nunca pintaram obras públicas por todo o mundo, como o castelo medieval de Kelburn, na Escócia. Curitiba também já teve a oportunidade de ver obras da dupla em 2008, quando a exposição Vertigem passou pelo Museu Oscar Niemeyer. De outro, a patrulha da prefeitura e seus terceirizados, que buscam uma "cidade limpa", mas não conseguem definir o que apagam ou não.
Sem critérios definidos, eles escolhem o que é "bonito ou feio" de forma subjetiva, e até cômica, mostrando o total despreparo e a incoerência do poder público ao tratar do assunto. O que é considerado pichação pelas equipes ganha uma camada tosca de tinta cinza. Por baixo, ainda se veem os resquícios da arte e a discussão dos próprios trabalhadores. Muitos divergem sobre o que merece ser apagado, e outros até dão palpite no grafite alheio.
Os depoimentos dos artistas e de moradores de São Paulo, além de flagrantes das reações de motoristas que, no meio dos engarrafamentos estressantes da capital paulista, se deparam com grandes painéis ajudam o espectador a refletir sobre o que é arte urbana, e como ela interfere positivamente no cotidiano cercado pelo concreto sem cor.
Mais impasses
Infelizmente, o "grafita-apaga" persiste na nova gestão da prefeitura de São Paulo, do prefeito Fernando Haddad. Em maio, foi apagado novamente (por três vezes, em poucas semanas) um painel feito pelos Gêmeos no Viaduto do Glicério, centro da capital paulista. GGG
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