• Carregando...
A exposição termina com “O Delyrio”, um ambiente surreal, com mesas e cadeiras que brotam do teto e das paredes | Fotos: Divulgação/Museu da Língua Portuguesa
A exposição termina com “O Delyrio”, um ambiente surreal, com mesas e cadeiras que brotam do teto e das paredes| Foto: Fotos: Divulgação/Museu da Língua Portuguesa
  • A mostra dedica espaço para as personagens femininas de Machado

São Paulo - A exposição Machado de Assis: Mas Este Capítulo Não É Sério, em cartaz no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, pode ser atravessada do início ao fim com pouco mais de cem passos.

Da maneira como foi organizada, é como se o primeiro andar do prédio estivesse ocupado por uma grande instalação dedicada a Machado de Assis (1839-1908), criada para lembrar o centenário de sua morte, no último dia 29 de setembro.

Na entrada, assim que sai do elevador que dá acesso à mostra, o visitante se depara com uma seqüência de três fotografias gigantes, com pelo menos dois metros de altura cada.

Na primeira, a imagem está fora de foco e é impossível entender o que é retratado. Na segunda, se adivinha a imagem de um homem sentado. A última revela que se trata da figura adulta de Joaquim Maria Machado de Assis, com as pernas cruzadas na altura dos joelhos (como fazem as mulheres e os intelectuais), o cotovelo esquerdo sobre uma escrivaninha, a gravata borboleta, o nariz arredondado e os lábios grossos.

A trinca de fotos anuncia que a exposição pode servir para tornar o escritor mais nítido para um público que talvez não o conheça muito bem. Ou até revelar informações pouco difundidas sobre sua vida (e morte).

Baseada principalmente no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1881, a exposição evidencia as origens negras do maior gênio da literatura brasileira em todos os tempos, bisneto de açorianos (por parte de mãe) e de escravos (pai).

Assim como o livro que a inspira, a exposição também tem um narrador autoconsciente que fala com o visitante: "Pule um capítulo. Rasgue uma página. Isto aqui é um livro e você é minha personagem", diz a voz no primeiro alto-falante de três espalhados pelo ambiente, acionados por um botão.

Aliás, existem várias possibilidades de interação ao longo das dez seções da mostra. Por exemplo, é possível sentar na cadeira diante de uma penteadeira em que o espelho central foi trocado por uma televisão que mostra várias mulheres anônimas, enquanto o narrador pronuncia os nomes das personagens femininas de Machado.

Na frente do móvel, três painéis são dedicados a mulheres negras. No livreto de 48 páginas que serve de guia da exposição, tais fotografias ilustram descrições que Machado fez nos contos "Mariana" e "Sabina".

O homem da nota de mil cruzados e autor de Dom Casmurro (1899) era um apreciador de música clássica e jogador de xadrez. Para ilustrar sua contribuição à língua portuguesa, uma seção é feita somente de livros – na maioria, dicionários – que podem ser manuseados pelo público, inclusive se quiser buscar os significados das palavras escritas em pedaços de papel (Deus? Algoz? Eu?) que cobrem as paredes. Todas com interrogações.

Quem gosta de literatura deve apreciar os originais expostos em nichos na parede, protegidos por um vidro grosso. São trechos de Esaú e Jacó (capítulo "Ao Piano") e Memorial de Aires ("Sem Data"), ambos do acervo da Academia Brasileira de Letras.

Neles, se vê que Machado tinha uma letra bem legível – há o mito da dificuldade de se entender a letra de um escritor, que, em geral, redige muito rápido para dar conta de suas idéias – e sempre alternava uma linha escrita com outra em branco.

Outra curiosidade: no desfecho de Memorial de Aires, escreveu "Fim" flutuando na penúltima linha da página, com dois traços sublinhando a palavra.

A exposição termina com "O Delyrio", um ambiente surreal, com mesas e cadeiras que brotam do teto e das paredes. Ali, estão folhas de rosto de primeiras edições de Machado, charges, notícias da época, anúncios de jornais e fotografias.

* * * * *

Serviço

Machado de Assis: Mas Este Capítulo Não É Sério. Museu da Língua Portuguesa (Pça. da Luz, s/nº – Centro. São Paulo – SP), (11) 3326-0775. De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. Ingresso a R$ 4 e R$ 2 (estudantes com carteirinha). Professores da rede pública com holerite e carteira de identidade, crianças de até 10 anos e adultos com mais de 60 anos não pagam. Aos sábados, a entrada é franca para todos. Até 1º de março de 2009.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]