"filmografia"
Quando Sylvester Stallone era o goleiro do time de Pelé
A dupla Pelé e John Houston "deu química". Em 1981, o grande diretor havia dirigido o "rei do futebol" no filme Fuga Para a Vitória. Pelé interpretava o craque de um time de futebol de prisioneiros de guerra treinado por Michael Caine com Sylvester Stallone no gol. Dois anos depois, outra história com futebol os reuniu na telona.
No filme A Minor Miracle (A Vitória do Mais Fraco), de 1983, Pelé organiza um jogo para salvar o orfanato em que foi criado por um padre doente, vivido por Houston. O médico Nilson Santos foi o produtor executivo do filme. "Fui convidado para ser produtor para garantir a presença do Pelé no elenco. Não gastei um centavo e depois fui defender o filme no festival de Cannes", explica.
Ele conta que o diretor estreante Terrel Tanem ficava constrangido com o "tamanho" de seus astros. "A cada tomada ele perguntava a Houston "O que o senhor acha. Podemos rodar?", lembra. Sobre Houston, que sempre teve fama de temperamental e viril, Santos disse que se lembra de um homem "generoso, divertido e inteligente".
O presidente norte-americano Ronald Reagan (1911 2004) acordou indisposto em seu rancho nos arredores de Los Angeles. Pediu para chamarem seu médico de confiança. Agentes do governo foram então buscar o brasileiro Nilson A. Santos em uma das treze clínicas que mantinha no país.
O baiano que vivia e trabalhava nos Estados Unidos há três décadas era amigo de Reagan desde os tempos em que o republicano era ator de faroestes. Não era, contudo, um cidadão americano. Os áulicos de Ronnie argumentaram que não seria de bom tom que o presidente fosse atendido por um estrangeiro. Reagan, então, sacou a caneta e concedeu a cidadania ad hoc ao brasileiro.
Esta é só uma das inúmeras histórias fantásticas que Santos tem para contar. Com a fala mansa e gingada dos baianos, por vezes misturada a expressões em inglês, Santos rememora o tempo em que foi íntimo do circuito de estrelas de Hollywood, justamente na época dourada e glamurosa da indústria de sonhos.
"Naquele tempo os estúdios controlavam cada passo da vida dos atores. Assim se criavam os mitos. Hoje isto mudou, mas as coisas mudam mesmo", observa.
Foram tempos de festas black-tie na casa de Rock Hudson, boleros de rosto colado com Liz Taylor, uísques com Cary Grant e Sammy Davies Jr. As centenas de fotos espalhadas pela luxuosa cobertura em Curitiba mostram como o médico, boa praça e bon vivant, esteve realmente lá e viveu para contar.
Santos diz que emigrou para a "América" ainda na década de 1950. Tinha ficado fascinado pelo país durante uma viagem de intercâmbio na adolescência. Conseguiu ingressar na faculdade de medicina e, para se sustentar, dava aula de danças latinas em uma tradicional escola de danças em Hollywood Boulevard.
As alunas eram esposas de atores e figurões do cinema e foi pelo talento como pé-de-valsa que Santos colocou os dois pés no jet set. Como médico, construiu a carreira de mais de cinquenta anos atendendo a população latina de L.A. Ou seja, metade da cidade. "Era um tempo de afirmação latina na música e no cinema. Com o meu trabalho fiz também parte desta história", diz.
Irmão de Pelé
O momento crucial da vida do médico foi seu encontro com Pelé. Em uma das primeiras excursões do Santos aos EUA na década de 1960, faltou material ao departamento médico do clube e ele foi chamado para ajudar. Integrado à delegação por agradecimento, conheceu o rei do futebol e assim nasceu uma amizade eterna. Os dos se tratam por "irmãos". Foram sócios em vários projetos e foi por causa de Pelé que Santos teve sua primeira e única experiência como produtor em Hollywood. Morando em Curitiba desde 2002, Santos coordena o projeto Gols Pela Vida, parceria do Instituto Pelé e do Hospital Pequeno Príncipe.
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