Serviço
Contatos com Joba Tridente podem ser feitos pelo e-mail: jobatridente@hotmail.com.
Joba Tridente tira cuidadosamente seus novos tesouros de uma mochila esportiva preta, guardados separadamente em sacos plásticos do Mercadorama. São obras feitas de cartões-ingressos, que ninguém usa mais. Vem sendo assim há mais ou menos 30 anos: ele transforma em arte o que as pessoas jogam fora, seja lixo ou palavras.
O artista, nascido no interior de São Paulo, se diz "um itinerante." Morou em Brasília, Bahia, além de Curitiba, aonde chegou em 1991. Sempre trabalhou com cultura, mas andava um tanto aborrecido com as artes plásticas. Nos últimos tempos, preferiu trabalhar com cinema, literatura, oficinas, contação de histórias, entre outras tantas atividades que faz ao mesmo tempo.
Boa parte das horas livres, o artista usa para frequentar assiduamente a Caixa Cultural, espaço com um teatro aconchegante de pouco mais de 100 lugares. Foram os ingressos dos shows, cartões que trazem impressas obras de diversos artistas brasileiros, que o animaram a voltar a fazer objetos de arte, e a criar o projeto "A Arte Anda... Ou Desliza, ou Nada, ou Dança".
Logo, virou "o cara da fila x que quer o ingresso." Além dos pedidos feitos de cadeira em cadeira pelo teatro, amigos que colecionavam os cartões sem saber muito bem o que fazer com eles foram os principais "patrocinadores."
Em suas mãos, Di Cavalcanti virou Boi de Folia, Toninho de Souza virou peixe, e Glênio Bianchetti se transformou em uma simpática e repulsiva cobra depende dos olhos de quem vê. "Ela causa reações diferentes, acho bacana isso", fala, aos risos, sobre a sua criação com engrenagens de isopor de supermercado, que a fazem deslizar. Ele já imagina uma grande instalação, com as cobrinhas subindo e descendo a partir do teto.
Para quem detesta os bichos rastejantes, Joba, que carrega dois anéis de serpente prateados, um em cada dedo indicador das duas mãos, logo explica: ela significa sabedoria, conhecimento, verdade, poder e amor. "É o pentagrama."
O maior desafio do trabalho foi o de fazer a bichinha mostrar a língua. Foram dias de testes com articulações em papel, até conseguir o movimento perfeito. Mas, ele não acredita em perfeição. "Sempre fui muito chato, até ver que a cultura japonesa preza pela característica da obra, pela imperfeição. É o que eu chamo de processos escultóricos."
No novo projeto, Joba Tridente, acostumado com o preto e branco do bico de pena, que predomina nos seus trabalhos artísticos, também redescobriu as cores. O azul, o vermelho e o amarelo são predominantes nos bois de folia. "São cores de folclore, acho algo bacana, lúdico, infantil", define. O objeto mexe a cabeça e o rabo, assim como o bicho quando dança nas festas folclóricas. "É um objeto escultórico, mas nada te impede de dá-lo a uma criança e ela achar que é um brinquedo. O grande barato da arte é isso. É ela ser qualquer coisa que você queira."
Trabalho
Cineasta, artista plástico, contador de histórias. Essas são apenas algumas das atividades exercidas por Joba para viver de arte. Mesmo com talentos múltiplos, por preferir trabalhar como autônomo, não é fácil se inserir no "mercado". Só a palavra edital lhe causa arrepios. "Infelizmente, já trabalhei com editais e não existe artista que goste. Quem escreve edital é burocrata. Então, eles pedem coisas sem a menor lógica. A captação de verba é uma coisa insana." Precisou abrir uma empresa para poder realizar uma oficina de literatura. "Para tudo, você precisa ser empresário. Não trabalho dessa forma."
Mas a missão continua: ele quer continuar a mostrar que é possível transformar o descartável em arte. Seja aproveitando a bandeja do presunto, ou até uma caixa de bolo que para ele vira rapidamente um gato de papel. "Tudo é uma questão de treino do olhar."