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Johnny Cash: sinceridade e histórias impagáveis | Divulgação
Johnny Cash: sinceridade e histórias impagáveis| Foto: Divulgação

Biografia

Cash – A Autobiografia

Johnny Cash e Patrick Carr. Tradução de Angélica Freitas. Leya, 265 págs., R$ 39.

No início dos anos 2000, Johnny Cash vivia um renascimento de sua música, apresentada a uma nova geração de fãs pelo disco Unchained, produzido por Rick Rubin alguns anos antes.

A mesma sinceridade cortante com que ouvimos Cash cantando uma versão de "Hurt", do Nine Inch Nails neste álbum, é usada por ele para contar sua história nesta autobiografia – escrita a quatro mãos com Patrick Carr, jornalista veterano da cena country de Nashville.

No texto, lemos um homem sábio, consciente da proximidade da morte e de sua importância na música e no mundo, que olha para um passado de queda e redenção com honestidade. Ainda que, segundo o autor, o livro "comporte lendas e mentiras e bêbados, velhos amigos e anjos".

No começo, ao falar da história da família de imigrantes escoceses, Cash faz um tratado sobre a colheita de algodão e a vida das famílias brancas e negras no sul dos Estados Unidos devastados pela depressão econômica. "A lama negra do delta do rio Mississippi nunca saiu de minha alma ou de minha música".

Na sequência, uma coleção de histórias impagáveis. Do assalto a sua casa na Jamaica, às incontáveis bad trips e alucinações por drogas, vexames em shows e destruição de carros em série. Numa delas, Cash derrubou um poste sobre o carro e as descargas elétricas dos fios sobre a lataria o fizeram ficar preso em uma gaiola de Faraday até a chegada da polícia. Ou ainda um ataque de avestruz, cujo ferimento o fez voltar ao vício em analgésicos, dos quais se julgava limpo.

É um livro para ler e manter à mão. Daqueles que podem ser abertos a esmo em qualquer página, pois numa delas estará o relato do começo de carreira com a turma da Sun Records e os primórdios do rock: Elvis, Jerry Lee e todos os outros ícones em viagens pelas estradas e planícies dos EUA.

Ficamos sabendo ainda que muitas das melhores histórias do folclore pop aconteceram efetivamente com ele. O personagem da música "Blues Suede Shoes", por exemplo, era um soldado, colega de Cash em um regimento na Alemanha, que vivia repetindo a frase do refrão (roubada pelo amigo Carl Perkins com seu consentimento).

Outra: a cena da cerimônia fúnebre em que o vento faz com que as cinzas do morto voltem à cara dos enlutados – imortalizada no filme O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Cohen – aconteceu de fato em sua propriedade, no funeral de um amigo.

Mas os melhores momentos da biografia são os que tratam dos momentos cruciais na vida do homem: o encontro com June Carter (1929-2003), seu grande amor, e com as anfetaminas, sua perdição.

Os relatos do amor por June, "amiga, protetora, amante e companheira", e a sua forte religiosidade cristã, em contraste com o lado sombrio do viciado autodestrutivo são de grande beleza e revelam um personagem ainda mais fascinante do que a sua grande obra inatacável faz presumir.

No final, Cash resume a força que o movia: "Vou pegar a minha calça preta, afivelar meu cinto preto em minhas calças pretas, amarrar meus sapatos pretos, pegar meu violão preto e fazer um bom show para as pessoas desta cidade". GGGGG

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