Há 90 anos, Alberto Santos Dumont cavalgou mais de 300 quilômetros pelo interior do Paraná. Saiu de Foz do Iguaçu para fazer uma reclamação ao governador Affonso Camargo, em Curitiba. O inventor havia sido convidado oficialmente pela Argentina para conhecer as quedas dágua daquele país. Aproveitou, então, a chance para também visitar as cataratas brasileiras.
Ficou hospedado no hotel de Frederico Engel, um barracão de madeira com quatro quartos. Achou a natureza do lugar mais bela que a Argentina e quis saber o que o governo brasileiro fazia para explorar e cuidar daquela riqueza. Aí veio a surpresa: Frederico, dono do hotel, explicou que o poder público não tinha interesse no ponto e que toda aquela propriedade era de um uruguaio que cobrava tributos dos brasileiros ali instalados.
No dia seguinte, Dumont tomou as dores. Cancelou todos os compromissos, contratou dois peões e seguiu viagem cruzando o estado. Homem baixo, de corpo esguio, enfrentou a mata e os perigos do caminho para percorrer cerca de 300 quilômetros até alcançar Guarapuava, atravessando as cidades do sudoeste (como Cascavel, cujo nome fazia jus à fauna local). Depois, seguiu para Ponta Grossa até, finalmente, chegar à Curitiba, de trem. Visitou ainda Antonina, Morretes e Paranaguá, antes de ser recepcionado pelo governo e oficializar sua queixa sobre a situação das cataratas de Foz. Demorou três meses para que fosse criado o Parque Nacional do Iguaçu, em decorrência da intervenção de Dumond.
"Tão genial ele era que, mesmo sem conhecer o caminho, aproveitou as linhas recém-instaladas do telégrafo para percorrê-lo", conta o produtor Celso Alves de Carvalho Filho, da Prisma Marketing Cultural. Ele pretende dar conta dessa genialidade com um documentário de 26 minutos, que está sendo produzido em parceria com a Faculdade de Ciências Aeronáuticas, vinculada à Universidade Tuiuti do Paraná.
O pretexto é uma conquista bem mais famosa do brasileiro, o vôo do 14 Bis, o primeiro veículo mais pesado que o ar a levantar vôo. A realização completa um século no dia 23 de outubro e, além do documentário paranaense, intitulado 14 Bis Um século de Pioneirismo de Alberto Santos Dumont, deverá gerar uma série de celebrações no Brasil e no mundo.
No mês passado, Celso Carvalho foi até a cidade de Caldas Novas, em Goiás, para registrar a iniciativa do empresário Alan Calassa na preservação da memória do inventor e aviador brasileiro. O goiano construiu quatro réplicas idênticas ao avião usado por Dumond há um século. As imagens serão usadas no filme que Carvalho co-dirige com Glauber Gorski. "A nossa intenção é homenagear o gênio que esse homem representa. Ele foi aviador, inventor, designer. A sua mente não parava. É dele o relógio de pulso, o hangar e uma série de outros artefatos comuns hoje", argumenta Celso Carvalho. O documentário será composto por depoimentos, narração em off e finalizado em quatro idiomas.
O cerne do projeto é a documentação reunida pelo professor curitibano Átila José Borges no decorrer de 40 anos de pesquisas. "Ele é meu ídolo", conta Borges, que manteve por mais de 20 anos o programa Entre Nuvens e Estrelas, na então TV Paranaense, além da um coluna homônima na Gazeta do Povo. Sua próxima batalha é valorizar a passagem de Dumont pelo Paraná, o que lhe confere não apenas o posto de pai da aviação, mas também de "pai do turismo brasileiro", graças à história narrada no início da matéria.
Serviço:www.prismaproducoes.com.br
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