Trajetória
O português Orlando Azevedo fez o primeiro curso de fotografia por correspondência e se considera "meio" autodidata.
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Começo
Azevedo está no Brasil desde 1963. No país, iniciou a carreira fazendo um curso de fotografia por correspondência. É casado desde 1977 com a também fotógrafa e administradora de empresas Vilma Slomp, com quem tem dois filhos: Rafael e André. É formado em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (hoje, o Unicuritiba). Chegou a ir para Lisboa estudar, mas "fui para a aula três vezes", conta. Gostava de gazear o curso para ir a show de blues e logo retornou ao Brasil. Em seu novo projeto, estava na dúvida entre fazer fotos em preto e branco ou em cor. Escolheu a segunda opção, já que as cores dos barcos, casas e vilarejos são, para ele, "lisérgicas".
Música
Foi baterista da banda A Chave, formada no fim da década de 1960, e que teve como letrista o poeta Paulo Leminski. Não toca mais bateria e não tem interesse em voltar a fazer música.
Escritório
Em seu estúdio, tem catalogado todos os negativos de suas fotos. No escritório, reúne diversos objetos que ganhou em suas viagens pelo país, que distribui por estantes e pelo teto. Guarda, por exemplo, uma bandeira do MST que ganhou do líder de um acampamento do movimento no Paraná.
Exposições
Orlando Azevedo fará uma pausa de dez dias antes de seguir viagem pelo Lagamar rumo a Iguape (SP), para cuidar de duas novas exposições suas, que devem estrear em São Paulo nos meses de agosto e setembro.
A camisa e a calça jeans, o colar no pescoço e vários anéis prateados nos dedos deixam o fotógrafo Orlando Azevedo com aparência distante dos seus 62 anos. Inquieto, ele percorre a ampla sala do estúdio e fala com paixão sobre seu ofício e a nova etapa do seu projeto Coração do Brasil, iniciado em 1999. Na última terça-feira, quando recebeu a reportagem da Gazeta do Povo, Azevedo tinha acabado de voltar da estrada, ou melhor, do mar: passou 15 dias percorrendo ilhas da Baía de Paranaguá, onde começou a sua viagem pelo estuário Lagamar, que vai até São Paulo, onde fez as fotos que ilustram esta reportagem, divulgadas com exclusividade para o Caderno G.
A nova expedição resultará no quinto livro da série, via Lei Rouanet, que terá edição trilíngue e uma exposição, que Azevedo pretende lançar até o fim deste ano. A publicação também trará textos de professores como Antonio Carlos Diegues (USP) e João José Bigarella (UFPR). As andanças do fotógrafo desde o começo do projeto acumulam números impressionantes: 70 mil quilômetros percorridos pelo país, quatro livros de fotografia (um deles, somente sobre o Paraná) e cerca de 35 mil fotografias. "Esses livros são a história da minha vida. Venho de uma longa trajetória na fotografia, e sempre quis fazer algo que somasse. É um rito que me concebe."
Neste novo trajeto, Orlando Azevedo está percorrendo o estuário Lagamar, que compreende a região de Paranaguá até Iguape, em São Paulo, e pretende abordar a influência da cultura caiçara na população do local. "É um retrato do homem e da natureza, além da vivência em comunidades mínimas, que nem imaginávamos existir. Como venho de uma ilha, trago muito de mim também. Sou um ilhéu à deriva", diz o fotógrafo, que nasceu na Ilha Terceira, no arquipélago de Açores, em Portugal.
Azevedo saiu da Europa no começo da década de 1960 (o pai trabalhava na ONU e veio ao Brasil a trabalho) e acredita que estava predestinado a morar no país. "A ilha era cercada pelo Monte Brasil. Depois, morei na Avenida Brasil e saí de lá para para vir ao Brasil."
O Paraná, Azevedo conhece de ponta a ponta, e teve de desenvolver um novo olhar para as fotos que fez nas baías de Paranaguá e Antonina, onde foi a ilhas como a do Corisco e da Garça. "Tem de desaprender e começar tudo de novo." A preservação do mangue, o encontro com aves raras (como a Guará) junto com o desenvolvimento de algumas localidades, como a Ilha do Mel, é o que mais impressiona o fotógrafo. "Sou de uma época onde não tinha luz na Ilha do Mel. Esse avanço assusta. Mas fico feliz que está sendo feito de maneira organizada, tirando algumas pessoas que vão para estragar o lugar. Cheguei lá (na ilha), e a janela do Farol estava quebrada! Isso é sacanagem", protesta.
Planejamento
Para fazer as fotos, Azevedo começa cedo (por volta das seis da manhã) e vai até quando "rasga a luz", no fim da tarde. Nesta viagem, o filho mais novo, Rafael, de 25 anos, é seu assistente (em uma viagem anterior, o filho mais velho, André, também foi junto com o pai). Além de pensar nos detalhes básicos para quem é fotógrafo (como levar soprador para equipamento, já que a câmera acaba sujando), é preciso carregar apetrechos como uma bota específica , segundo ele, "para não entalar na lama até o pescoço" e fazer um planejamento detalhado do trajeto. "Se não for CDF, a coisa não sai!"
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