Os personagens da série "Bourne" se locomovem em um mundo um tanto particular, uma espécie de aldeia global movida por medicação. Por isso, não é de se espantar todo o esforço que o protagonista de "O Legado Bourne" realiza para conseguir seus remédios que são milagrosos o bastante para transformá-lo numa espécie de super-homem, que vai do Alasca a Seul, chegando a Manila. Apesar de Matt Damon (o protagonista da trilogia inicial Bourne) e o diretor Paul Greengrass (responsável pelo segundo e terceiro filmes) terem cogitado uma nova sequência, quando esta não deu certo a chance acabou indo para Tony Gilroy, responsável pelos três primeiros roteiros e que aqui escreve com seu irmão Dan, e também assina a direção. Mais do que uma continuação, esse filme é um novo ponto de partida para uma nova série, que traz como passado os outros filmes, e tem como estrela Jeremy Renner, de "Os Vingadores" e "Guerra ao Terror". Ele, que se chama Aaron Cross, ao lado de Bourne, é um dos homens vítimas (ou talvez, palavra melhor seja "resultado") das experiências da corporação Treadstone -- ao todo, aparentemente são nove. Desde então, os sobreviventes são mantidos com pílulas que aumentam suas capacidades físicas e inteligência. No entanto, tudo é um tanto obscuro, e fica mais complexo quando essas pessoas começam a ser eliminadas. "O Legado Bourne" se abre em várias frentes que, além de Aaron, também inclui um grupo de militares em Washington tentando encobrir as experiências que podem trazer consequências graves -- entre eles está o Coronel Byer (Edward Norton). Há um outro grupo, de cientistas, que traz a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz), que pode ter a ajuda de que Aaron necessita. Na última década, desde quando o primeiro Bourne foi lançado, em 2002, o gênero de suspense de ação ganhou um novo fôlego que o salvou da morte agonizante com filmes repletos de efeitos especiais e tiroteios, mas carentes de personagens e trama. Ao centro estava a busca da identidade do personagem -- e sua consequente humanização. Nem todas as perguntas que só aumentavam a cada filme conseguiram respostas ao final, e essa era uma das melhores sacadas da série. Aqui, embora, Gilroy não arme uma trama tão repleta de teias e questionamentos, ele é sagaz o bastante para sobrepor um filme ao outro. Trazendo à cena personagens do passado -- como os de Joan Allen, David Strathairn e Paddy Considine -- o diretor/corroteirista consegue pontos de intersecção entre os filmes. Como na primeira direção de Gilroy, "Contato de Risco", em "O Legado Bourne" a indústria farmacêutica tem um papel relevante. No filme de 2007, havia uma luta de Davi contra Golias, enquanto aqui existe um ar de conspiração global -- para continuar com a vocação do filme. Basta ver as cenas numa linha de produção de remédios nas Filipinas. O personagem de Renner não chega a ser tão atormentando quanto era o de Damon. Seu problema é de outra ordem. Enquanto o antigo buscava a sua identidade, este precisa manter a sanidade e o físico. É um tratamento interessante esse que o filme mostra como os EUA lidam com seus supostos heróis de guerra -- especialmente aqueles que podem causar mais danos do que glórias.
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