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Isaac Asimov: o Bom Doutor se inspirou em Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, para criar a trilogia Fundação | Divulgação
Isaac Asimov: o Bom Doutor se inspirou em Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, para criar a trilogia Fundação| Foto: Divulgação

É difícil pensar em livros de ficção científica e não fazer a relação direta com Isaac Asimov (1920-1992). O russo radicado nos Estados Unidos conseguiu, até sua morte, ultrapassar a impressionante marca de 500 livros escritos e editados.

Se algumas das obras mais marcantes do gênero adaptadas para o cinema são de autoria de Philip K. Dick (Blade Runner e Minority Report – A Nova Lei), Asimov deixou seu legado aos cinéfilos com Eu, Robô e O Homem Bicentenário. Mas a maior contribuição do Bom Doutor, como foi apelidado pelos fãs, sem dúvida é a trilogia Fundação, de 1951, que sai no Brasil em nova edição pela Aleph.

Asimov, na década de 80, reescreveu vários detalhes de seus livros, como datas e decisões tomadas por personagens, para dar uma continuidade temporal às suas obras. A nova versão chega com essa revisão do autor e em três volumes: Fundação, Fundação e Império e Segunda Fundação.

Vencedora de um Hugo Award especial em 1966 de melhor série de ficção científica de todos os tempos (derrotando concorrentes de peso como O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien), a trilogia é antes de tudo um exercício de futurologia altamente embasado em estudos históricos.

A trama, que se passa a alguns milênios do presente, narra a queda de um império da raça humana que havia colonizado quase toda a via láctea, e prevista por Hari Seldon, um matemático detentor da ciência que o autor chama de psico-história (e que pode ser entendida como uma estatística muito mais precisa).

Seldon recruta uma população inteira de cientistas para exilarem-se na periferia do império e elaborarem uma enciclopédia galáctica que, segundo acreditava, salvaria a humanidade de milênios de obscurantismo. A partir daí, o que se segue são feudos periféricos, governos despóticos e formação de burgos da acepção mais clássica da palavra.

Não é à toa que uma das maiores inspirações de Asimov para compor o cenário de Fundação foi o livro Declínio e Queda do Império Romano, do historiador Edward Gibbon, e doutrinas polêmicas como o Destino Manifesto (segundo a qual a expansão dos Estados Unidos pelo mundo é a expressão da vontade divina) permeiem a obra por meio de paralelos facilmente identificáveis.

É importante que se diga que as nove partes que compõem os três livros da série, são, na verdade, contos interdependentes e organizados cronologicamente para que cada parte dê sequência aos eventos ocorridos na parte anterior, sendo difícil classificar Fundação quanto à forma.

Pela vastidão de tempo que ela abrange, personagens marcantes como o prefeito Salvor Hardin e o matemático Hari Seldon não duram além de algumas poucas páginas, retornando à trama na lembrança de outros personagens ou sob a forma de hologramas.

Ainda assim, Fundação mantém sua unidade por ser a própria fundação de enciclopedistas a verdadeira protagonista da obra, delegando aos outros personagens a responsabilidade de tomar decisões que interfiram no destino da civilização.

A trilogia se distingue de outras ficções científicas distópicas por não retratar a sociedade modificando as relações humanas, mas o contrário. O poder da religião, que na obra de Asimov, está ligada à ciên­­cia, é forte o bastante para depor estadistas e alterar o co­­mércio de artefatos futuristas.

O caráter divino do imperador é incontestável e os cargos de governantes são ocupados em sua quase totalidade por homens. Isso faz de Fundação um marco da ficção científica. Mais do que imaginar as invenções e sociedades do amanhã, Asimov, como bom futurologista, era consciente da dura realidade de que certas coisas podem demorar mais de dezenas de milênios para mudar.

Serviço

Fundação, Fundação e Império e Segunda Fundação, de Isaac Asimov. Aleph, 240 págs., R$ 39 (cada volume).

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