O legado do agitador de uma década

Expoente no Paraná da chamada Geração 80, Raul Cruz (1957-1993) agitou Curitiba ao longo de uma década com seu trabalho de vanguarda. Múltiplo, circulou não só pelas artes visuais, mas também pelo teatro e pela performance, refletindo nas obras tanto os seus dramas pessoais quanto o contexto do Brasil. Apesar da sua importância local – e também nacional – o legado de Cruz ainda é pouco conhecido pelas novas gerações. A partir de hoje, suas pinturas, gravuras, linóleos, textos e registros em vídeo poderão ser vistos na exposição Cena Raul Cruz, que será inaugurada hoje, às 10 horas, no Centro Cultural Sistema Fiep, com performance de Edith de Camargo, cantando uma composição do artista.

Com curadoria do historiador e professor de Artes Visuais da UFPR Paulo Reis (e curadoria adjunta de Luana Navarro) a mostra traça um panorama amplo da obra de Cruz, com materiais dos acervos da Casa da Imagem, Fundação Cultural de Curitiba e Museu de Arte Contemporânea (MAC), além de obras de colecionadores particulares e da escola de inglês Interamericano.

Reis quis colocar um artista num panorama mais global. Por isso, trouxe obras de outros nomes que dialogam com o trabalho de Cruz, como Leonilson, que, inclusive, nasceu e morreu no mesmo ano que o curitibano. "É um diálogo bem sutil para pensar produções brasileiras numa vertente mais autorreferencial", diz.

Outro objetivo do curador foi ressaltar a multiplicidade de Cruz : sua produção de teatro, por exemplo, foi emblemática. "Ele rompeu com a linguagem mais conservadora da época", salienta Reis. Por isso, a mostra também programou uma série de eventos ao longo do ano e, no ano que vem, lançará uma publicação com textos críticos e imagens (em parceria com a Editora Medusa), que analisa a obra do artista.

Nas artes visuais, a marca de Cruz foi a sensibilidade, com obras fortes que refletem o drama pessoal, e também o de toda uma geração atingida pela crise da Aids nos anos 1980 (ele morreu em decorrência da doença, em 1993). "O Raul catalisa as pessoas. Ele trouxe com a obra dele o questionamento sobre o que é ser um sujeito, nessa complexidade que é o mundo", aponta Reis.

Valorização

Para a gerente de cultura do Sesi Paraná, Ana Zétola, que é fã de Raul Cruz, o artista não tem o reconhecimento que deveria. "Ele deveria estar no mundo. Por isso, nossa ideia é mostrar e valorizar o seu trabalho. Se hoje temos uma liberdade cultural, artística e de escolha, devemos muito a ele e a toda a Geração 80."

Expansão

Vários eventos vão discutir a obra de Raul Cruz; todos com entrada gratuita:

• Performance

Traço. Raul Cruz

Com a Inusitada Cia.

Quando: 23, 24, 29 e 30 de agosto, às 19h30.

Onde: Centro Cultural Sesi Heitor Stockler de França (Av. Marechal Floriano Peixoto, 458 – Centro), (41) 3322-2111.

• Bate-Papo

Cena Raul Cruz

Com Paulo Reis, David Mafra e convidados.

Quando: 5 de setembro, às 19h30.

Onde: Centro Cultural

Sesi Heitor Stockler de França.

• Ciclo

Teatro do Paraná, Histórias, Leituras Dramáticas e Depoimentos

Com Letícia Guimarães, da Cia. do Abração.

Quando: 16 de setembro, às 19h30.

Onde: Miniauditório do Teatro Guaíra (R. Amintas de Barros, s/nº – Centro), (41) 3304-7982.

• Oficina

Serigrafia para a Arte Ur­­ba­­na para Crianças e Jovens

Com Fernando Rosenbaum.

Quando: 13 a 16 de outubro, das 10h às 12 horas (para crianças), e das 14h às 17 horas (para jovens de 11 a 15 anos).

Onde: Bicicletaria Cultural (R. Pres. Faria, 226 – Centro), (41) 3153-0022.

Inscrições pelo e-mail: bicicletariacultural@gmail.com.

• Conversa

Impressões de Raul Cruz sobre a Cidade

Com Cleverson Oliveira

Quando: 17 de outubro, às 14 horas.

Onde: Bicicletaria Cultural .

Inscrições pelo e-mail: bicicletariacultural@gmail.com.