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Bady Assad faz tres shows na capital | Divulgação/Teatro da Caixa
Bady Assad faz tres shows na capital| Foto: Divulgação/Teatro da Caixa

John Banville não é o tipo de escritor que suscita paixões. Aliás, é conhecido por inspirar exatamente o oposto. Imagine então o efeito que o Man Booker Prize, prêmio literário mais importante do Reino Unido, vencido pelo autor irlandês em 2005, teve sobre seus desafetos. Se soubesse sambar, Banville com certeza o faria – sobre o ódio da concorrência.

A obra pela qual recebeu a honraria acaba de ser lançada no Brasil pela Nova Fronteira. O Mar desbancou romances badalados de autores carismáticos, como Arthur & George, de Julian Barnes (tido como favorito e traduzido pela Rocco), e Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro (Companhia das Letras). A lista tem ainda On Beauty, de Zadie Smith, Por Acaso, de Ali Smith, e A Long Long Way, de Sebastian Barry.

Nenhum deles foi páreo para Banville, embora a escolha tenha se mostrado controversa. O Mar é narrado por Max Morden, um historiador da arte que acaba de perder a esposa Anna para o câncer. Talvez como forma de lidar com o luto, decide viajar para a cidadezinha costeira onde passou parte de sua juventude. Ele deseja terminar um trabalho sobre o pintor Pierre Bonnard e acaba se hospedando na mesma casa onde, na infância, conheceu os Grace, família que visitava o balneário de tempos em tempos, ligada a algumas das experiências de vida cruciais do narrador, como o amor e a iniciação sexual.

A crítica mais freqüente dirigida a Banville fala de sua disposição em valorizar o estilo em detrimento do conteúdo. "Eu concentro uma grande parte das minhas energias artísticas na linguagem em que a história é contada. Com freqüência, esquecemos que uma história é contada em – e por meio de – uma linguagem. Portanto, ela é parte intrínseca da história. O que é mais significante para mim não é o que é dito, mas de que forma o que é dito é dito", diz Banville em entrevista por e-mail, desculpando-se pelo "modo enrolado" de se expressar na resposta.

Na opinião do escritor, nascido em 1945, "qualquer um pode contar uma história", seu objetivo é criar "uma experiência".

Apesar de ter escrito um romance inteiro sobre um personagem que prefere escapar para o passado a ter de se submeter ao presente, Banville ignorava o provérbio em português "recordar é viver", mas se mostrou grato por conhecê-lo.

"Muito de nossas vidas é vivido, ou é uma tentativa de viver, no passado", afirma. "O presente não existe a não ser como um conceito e o futuro, embora esteja constantemente se precipitando sobre nós, inexiste como uma realidade tangível. Apenas o passado parece formado e fixo, algo completo. Por isso, creio, o passado parece tão mais significante e rico que o presente nebuloso em que somos obrigados a viver."

Banville tem outros dois livros editados no Brasil: O Intocável e O Livro das Provas, ambos pela Record. Para o autor, os temas de seus textos não são escolhas conscientes. "Nunca se decide escrever esse ou aquele tipo de romance. Uma obra de arte cresce, organicamente, como uma árvore – ou, em alguns casos, apenas como um arbusto", explica.

O plano inicial era fazer de O Mar um livro curto, de mais ou menos 70 páginas. Por um ano, Banville procurou escrever dentro dessa proposta, mas não conseguiu progredir. De uma hora para outra, a voz de Max Morden começou a falar em sua cabeça. Só então descobriu que direção tomar.

Serviço: O Mar, de John Banville (Tradução de Maria Helena Rouanet. Nova Fronteira, 224 págs., R$ 29,90).

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