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A chegada de Sarabande às locadoras, nas próximas semanas, marca mais um passo na carreira de um dos realizadores mais reverenciados do cinema. Aos 88 anos, Ingmar Bergman ainda está ativo e mostra que continua um observador sagaz dos homens e suas almas (leia texto ao lado). O título é apenas o último de uma série de lançamentos recentes em DVD dedicados ao mestre sueco.

Persona é outro, considerado por muitos cinéfilos a mais desafiadora, experimental e densa obra de Bergman. O foco está, como sempre, nos personagens e seus interiores, em uma trama que parte da crise de uma atriz madura intepretada por Liv Ullman, a esposa de Bergman. Ela perde voz no decorrer de uma encenação da peça Electra.

Há poucos meses, a chamada trilogia do silêncio (conhecida, ainda, como a trilogia da fé) também encontrou as prateleiras. Trata-se de um conjunto de filmes (Através de um Espelho, Luz de Inverno e O Silêncio) realizados nos anos 60, em que o cineasta tomou um rumo mais pessimista em relação ao mundo, por meio de muitos subtextos. Curiosamente, o diretor negou em entrevistas que tivesse qualquer pretensão de realizar uma trilogia e atacou a crítica, que insistia no rótulo. Talvez tenha sido o trabalho de fotografia em preto e branco de Sven Nkyvist a conferir uma cara parecida aos filmes.

Os trabalhos mais famosos como O Sétimo Selo, Morangos Silvestres, Gritos e Sussurros e Fanny e Alexander já encontraram distribuidores há tempos. Infelizmente, o início de carreira de Bergman ainda não recebeu atenção, incluindo uma produção vasta de 15 longas-metragens entre 1945 e 1954. Uma crítica sueca (Birgitta Steene) referiu-se ao primeiro trabalho de Bergman, Crisis (crises) como "um filme nervosamente fora de controle na mente de Bergman, o que cria uma impressão desconcertante". Infelizmente, o juízo de valor era negativo, acusando o cineasta principiante de ser "incapaz de se manter em um nível de normalidade mental". Soa promissor, mas ainda teremos esperar algum tempo para ver o lançamento desses títulos por aqui.

Admiradores

A extensa filmografia do cineasta, que com Sarabande alcança 62 títulos, já foi alvo de maior apreço. Na década de 70, em particular, ensaios extensos tentaram dar conta da criatividade do cineasta. Foi quando ele conquistou uma legião de admiradores, Woody Allen sendo, provavelmente, o mais famoso deles. Em Igual a Tudo na Vida, de 2003, o personagem interpretado pelo cineasta novaiorquino afirma "copie, mas copie do melhor". É uma piada de Allen com seu próprio cinema, que tem um pé em Bergman.

Por aqui, o argentino radicado em Curitiba, Hugo Mengarelli é um dos amantes mais fiéis. "Comecei a ver cinema com Bergman. Quando fui estudar teatro, como um bom argentino, mergulhei no cinema bergmaniano", afirma. O diretor teatral chegou a usar elementos de O Sétimo Selo em suas peças, partindo do famoso jogo de xadrez com a morte, interpretada, no filme, por Bengt Ekerot. Quando estudou Jornalismo, o O Sétimo Selo foi novamente alvo na sua primeira crítica de cinema. "O tratamento dele não é exagerado, não é carregado, é tudo tão justo, tão absolutamente justo. O cinema bergmaniano trabalha de maneira excepcional temas como Guerra Fria e o mal-estar estrutural humano, além de sua influência protestante, que vem do pai", afirma Mengarelli, citando a trilogia da fé que o levou a uma "reflexão em torno da vida e em trono de Deus que nenhum livro, ninguém tinha conseguido".

Outro diretor de teatro, o carioca Aderbal Freire Filho, adaptou o roteiro de Sonata de Outono para os palcos. "Eu não sou nenhum especialista em Bergman, mas, nas na décadas de 70 e 60, o cinema dele oferecia mistério ao lado de uma produção americana de histórias muito bem acabadas e fechadas. Bergman dava uma dimensão poética ao cinema no lugar de apenas bons contadores de histórias", recorda o dramaturgo.

Um dos motivos que o levaram a adaptar Sonata de Outono do roteiro cinematográfico para o teatro foram as relações entre as linguagens. No filme, uma das cenas mais tocantes, de acordo com o diretor, é quando as peronagens de mãe e filha tocam um piano. "No cinema, por meio da montagem, acreditamos que elas realmente tocam o instrumento. No teatro, resolvemos a questão com um recurso cênico", explica Filho. O piano, que é um dos elementos centrais da trama, foi simplesmente subtraído do espetáculo. "As atrizes extenderam as mão e tocaram no ar", afirma o dramaturgo. Aderbal diz que ficou contente ao descobrir que uma adaptação que o próprio Bergman fez para o teatro a partir da mesma obra, contava com recursos parecidos.

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