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Eduardo Wotzik, autor de Estilhaços, diz amar conteúdo “útil” da peça | Guga Melgar/Divulgação
Eduardo Wotzik, autor de Estilhaços, diz amar conteúdo “útil” da peça| Foto: Guga Melgar/Divulgação

Programação

Confira os horários e os locais onde serão apresentadas as quatro peças citadas na reportagem ao lado.

Sonhos Para Vestir

Teatro Paiol (Pça Guido Viaro, s/nº, Prado Velho). Dias 1º e 2 de abril, às 21 horas. R$ 50 e R$ 25 (meia).

Estilhaços

Barracão do Cietep (Av. Comendador Franco, 1.341 – Jardim Botânico). Dias 4, 5 e 6 de abril, às 21 horas. R$ 50 e R$ 25.

"..." (Reticências)

Sesc da Esquina (R. Visc. Rio Branco, 969 - -Mercês). Dias 1 e 2 de abril, às 21 horas. R$ 50 e R$ 25 (meia).

Sete por Dois

Teatro Paiol (Pça Guido Viaro, s/nº, Prado Velho). Dias 9 e 10 de abril, às 21 horas. R$ 50 e R$ 25 (meia).

  • Experimentação corporal é o forte do espetáculo
  • Stella Miranda e Tim Rescala: homenagem a cantores bizarros
  • Sara Antunes repensa a vida em Sonhos para Vestir

Entre as 31 peças da Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba, além de montagens de textos clássicos e de autores contemporâneos, também há propostas autorais de integrantes das próprias companhias. A Gazeta do Povo falou com quatro autores para saber o significa encenar uma proposta inédita e original: tendência, necessidade de enunciar a própria voz ou o que mais? Confira.

As nossas palavras

Sara Antunes está feliz da vida. Ela vai completar 29 anos no dia 3 de abril, imediatamente após apresentar, no Festival de Curitiba, Sonhos para Vestir, peça na qual interpreta, sozinha, o próprio texto. A proposta de dramaturgia surgiu e foi escrita durante três meses no ano passado, a partir de uma provocação de Vera Holtz, que assina a direção da montagem. Sonhos para Vestir apresenta uma mulher que, antes de dormir, pensa no dia que passou. "A personagem reflete sobre as últimas 24 horas, mas também sobre a vida", conta Sara.

A montagem, que estreou em 2010 no Espaço Sesc, do Rio de Janeiro, e segue em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, também no Rio, é interativa. Sara, em meio às falas, pergunta ao público, por exemplo, sobre um local bacana para passar uns dias, e – a partir da resposta –, a apresentação segue por caminhos inesperados.

Sara faz teatro desde os 15 anos, já escreveu outros três textos e acredita que é importante o Festival de Curitiba abrir espaço, na mostra principal, para a dramaturgia autoral contemporânea do Brasil. "Assim, vamos construindo uma nova linha de teatro e colocando nossas palavras em cena", diz a autora, lembrando que, nas artes cênicas atuais, não é apenas o texto que "fala", mas o cenário e outros recursos ajudam o autor a enunciar o seu discurso.

Fora de qualquer tendência

Eduardo Wotzik, de 50 anos, autor e diretor de Estilhaços, comemora a boa recepção de crítica e de público da montagem, que estreou no dia 8 de janeiro no Museu do Universo no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro. O texto, o terceiro que Wotkiz escreve para teatro, reúne fragmentos recolhidos ao longo da sua trajetória, mas a organização no formato para a cena começou a ser organizado em 2009.

A comédia, com quatro atores no elenco, mostra cenas cotidianas, por exemplo, a mãe que bate na filha dizendo "Eu já não te falei que você não pode bater na sua irmã que ela é menor do que você".

"O espetáculo procura mostrar também que não há nenhuma contradição entre o pensamento e a tecnologia e que as discussões são muito saudáveis numa sociedade democrática e moderna. A ética é um tema extemporâneo e intrínseco, e pensar nele pode ser muito divertido. A peça fala sobre isso. Essa é a questão que une os textos", diz Wotzik.

Questionado se haveria uma tendência na dramaturgia brasileira, em criar e encenar textos autorais, Wotzik não apenas discordou como apresentou o seu ponto de vista: "Nunca me liguei em tendências. A minha tendência é seguir meu desejo de dizer alguma coisa que considero que possa servir ao outro. Sou um ingênuo incorrigível. Trabalho incessantemente, cientificamente para proporcionar alguma evolução a quem me assiste. E minha voz pode aparecer através de Eurípedes, de Checkov, de Nelson Rodrigues, alguns dos autores que montei, ou de mim mesmo. O que é preciso é ter o que dizer. Se você não tem o que dizer, clássico ou contemporâneo, o melhor é ficar em casa", afirma o autor, que ainda diz, em tom de crítica e polêmica, o seguinte: "A maior parte dos espetáculos de teatro hoje em dia não tem nada a acrescentar, não surpreendem, carecem de consistência, não comunica nada no sentido de não comunicar nada e também no sentido de comunicar o nada que tem para comunicar. Isso é a tendência. Eu não partilho dessa graça. Acho que quando a arte não serve, não serve."

Corpos que falam

Angélica Zignani, de 31 anos, encenará, no Festival de Curitiba, "..." (Reticências), o seu primeiro texto, depois de passar por 17 cidades do interior paulista. Ela e o ator Fabiano Amigucci representam uma mulher e um homem em diversas situações nas quais o assunto recorrente é a brevidade da vida.

A autora e atriz comenta que um texto clássico pode ser apresentado em qualquer época, mas, no caso dela – integrante da Companhia dos Pés, grupo experimental de São José do Rio Preto (SP) –, colocar no palco uma obra autoral faz toda a diferença porque não é apenas o texto que conta, mas a pesquisa e o trabalho da linguagem corporal.

Musical de bolso

Stella Miranda e Tim Rescala, parceiros artísicos há décadas, decidiram realizar uma homenagem a sete cantores pouco conhecidos, entre os quais o brasileiro Alberto Nepomuceno (1864-1920), o francês Erik Satie (1866-1925) e o alemão Hans Eisler (1898-1962). Assim surgiu Sete por Dois, um musical que terá também breves textos. Em cena, o piano de Rescala e a voz e a interpretação de Stella. "É um musical de bolso porque é despretencioso. A escolha dos cantores, não tão populares, já revela a nossa visão de mundo. E o texto que vou dizer, em cena, terá lá a sua força", diz Stella.

Sete por Dois será apresentado pela primeira vez no Festival de Curitiba e a veterana atriz e cantora está mais do que satisfeita com a estreia. "Sabe, é bacana interpretar William Shakespeare e outros clássicos, mas chega a hora em que surge a necessidade da gente mostrar o próprio texto. Essa hora chegou e será em Curitiba", finaliza Stella.

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