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Xetá, de Fernando Severo: “O mercado cinematográfico gira completamente em função do longa-metragem.” | Divulgação
Xetá, de Fernando Severo: “O mercado cinematográfico gira completamente em função do longa-metragem.”| Foto: Divulgação

Na rede

Confira os sites nos quais curtas-metragens nacionais e estrangeiros podem ser assistidos:

PortaCurtas

O site da Petrobras ainda tem o maior acervo de curtas brasileiros. Uma dica é acompanhar a programação dos grandes festivais, pois na semana em que vários deles acontecem os curtas em competição ficam disponíveis no site www.portacurtas.com.br/index.asp.

Fluxus Online

Festival on-line de curtas, que tem entre os selecionados filmes brasileiros e estrangeiros e disponibiliza os títulos das duas edições já realizadas em boa qualidade: www.fluxusonline.com

UbuWeb

Dedicado à arte de vanguarda. Na seção Film/Video, é possível baixar várias obras essenciais do cinema experimental e da videoarte: www.ubu.com/film/index.html

Outros sites

Cine Mais Cultura:http://mais.cultura.gov.br/cinemaiscultura/

Programadora Brasil:www.programadorabrasil.org.br

The Smalls:www.thesmalls.com

NZ Short Films:www.nzshortfilm.com

Atom:www.atom.com

YouTube:www.youtube.com

Vimeo:www.vimeo.com

  • Praça Wall Disney, dos pernambucanos Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, melhor filme no Festival Internacional de Curtas de São Paulo
  • God of Love, Oscar de melhor curta-metragem de 2011: Luke Matheny dirige e estrela o filme

Quase todo mundo sabe que O Discurso do Rei, do britânico Tom Hooper, foi o grande vencedor do Oscar 2010, levando quatro estatuetas, incluindo a de melhor filme. Muito poucos, porém, já ouviram falar de God of Love, o melhor curta-metragem do ano, segundo a Academia de Hollywood. Talvez se lembrem de seu jovem diretor (e ator principal), Luke Matheny, por conta de seu bem-humorado discurso de agredecimento e, sobretudo, de sua exuberante e vasta cabeleira.

O fato é que, embora muitos gostem dos curtas (filmes com duração inferior a 30 minutos) quando têm a oportunidade de assisti-los, esses filmes inexistem para a maior parte do público, excetuando os frequentadores de mostras e festivais e cinéfilos mais empenhados, que vasculham a internet em busca de sites que os veiculem. Títulos nacionais, como Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo (RS), de Rodrigo John, vencedor do Festival de Gramado deste ano; e Praça Wall Disney (PE), de Re­­nata Pinheiro e Sérgio Oliveira, me­­­­lhor filme no Festival Internacional de Curtas de São Paulo, se­­­guem praticamente desconhecidos.

A reportagem do Caderno G entrevistou cinco diretores do cinema paranaense em busca de explicações sobre a dificuldade de exibir e distribuir curtas-metragens e quais são as possibilidades concretas de ampliar o acesso às produções. Foram ouvidos Fernando Severo, Paulo Munhoz, Eduardo Baggio, Rafael Urban e João Krefer. Leia a seguir trechos de seus depoimentos:

Por que os curtas-metragens têm uma visibilidade tão limitada?

• Fernando Severo – O mercado cinematográfico gira completamente em função do longa-metragem, deixando à margem qualquer produto audiovisual que esteja fora desse formato. E a grade de programação da tevê trabalha com tempos padronizados, dificultando a exibição do curta também nesse meio.

• Rafael Urban – Acho questionável dizer que os curtas têm visibilidade limitada. É evidente que poderíamos entrar aqui numa discussão de mercado, do lugar do curta, do longa, enfim. Espero que meu filme, Ovos de Dinossauro na Sala de Estar, chegue a 10 mil espectadores presenciais – que acho bastante elevado; não se trata de um número exagerado, mas possível (e maior do que uma parcela razoável dos longas faz nos cinemas). Até agora foram perto de 4 mil espectadores presenciais e tem muita água pra rolar. Com a televisão, esse número cresce ex­­ponencialmente – algumas dezenas de milhares de pessoas assiste, por exemplo, ao Cine Ó, da ÓTV, que dedica seu espaço a curtas paranaenses. Mas a questão mais importante hoje – que vai além de políticas públicas e falta de empresas distribuidoras – é a preguiça dos realizadores. Se os espaços sacramentados não existem ou não estão abertos aos curtas, é necessário buscar outros.

• João Krefer – A esmagadora maioria do público está acostumada ao cinema como sendo basicamente o longa-metragem narrativo, aquele que possui uma estrutura interna e um tempo de projeção adequados a um espetáculo. E, como o cinema ainda está muito atrelado à indústria, essa mentalidade não vai mudar tão cedo. Depois de um período áureo nas primeiras décadas de existência do cinema, o curta foi logo relegado a um papel secundário, ora subestimado como um "exercício" de diretores iniciantes, ora obscurecido e marginalizado pelo status de "experimental".

• Eduardo Baggio – Não acho que sejam tão limitadas as exibições. Eram limitadas na década de 90 quando passávamos curtas em meia dúzia de festivais. Hoje, uma simples postagem na internet faz ultrapassar em poucos dias todo o número de espectadores de um ano percorrendo festivais. Além disso, têm crescido muito os grupos (instituições em geral), que exibem curtas em sessões específicas, normalmente associadas a debates ou conversas.

• Paulo Munhoz – O curta iniciou como um produto cinematográfico, para abertura de longas, sendo o propulsor dos primeiros estúdios de animação no mundo. Depois desapareceu das telas, substituído pelas propagandas. Tivemos no Brasil uma experiência interessante dos curtas antes dos longas no cinema, a qual teve bons resultados iniciais, mas que foi destruída pela falta de fiscalização e regulação adequadas.

Quais são as possibilidades de exibição desses filmes hoje no Brasil?

• R.U. – Dentre as possibilidades formais, os festivais brasileiros que abrem mais possibilidades de exibição do seu filme no exterior são, por suposto, os internacionais. Quando um curador de festival vê seu filme entre os mais de 6 mil títulos que recebeu no ano (número de inscrições que os maiores eventos do mundo vão atingir em 2011), a chance de passar batido é grande – nas seleções, os filmes não são vistos em condições ideais (a começar pelo DVD, utilizado na maioria dos caso para seleção, que tem qualidade sofrível). Na exibições durante o Kinoforum [Festival Internacional de Cinema de São Paulo], por exemplo, tive o contato de curadores de festivais de fora, que assistiram ao meu curta no cinema, com cópia ótima e junto com o público; e se interessaram pelo filme.

• J.K. – Em se tratando da exibição na tela grande, o circuito de festivais vem sendo o principal espaço, chegando mesmo a ser mencionado por alguns como o "mercado" do curta-metragem por excelência, muito embora esses festivais não paguem cachês pelas exibições. Em seguida temos os cineclubes, com uma qualidade de projeção que tende a ser mais baixa, e para plateias mais segmentadas. Em ambos os contextos (festivais e cineclubes), os filmes costumam ser exibidos em programas a partir de uma hora de duração, curiosamente remetendo-nos à duração do longa-metragem. Algumas emissoras de televisão, em geral públicas e na tevê a cabo, compram curtas-metragens para sua programação. Com sorte, o valor do cachê cobre os gastos da produção. A internet é uma possível janela de exibição, quase sempre sem re­­muneração alguma. Devido a sua enorme abrangência, depende muito de um trabalho de divulgação para que o curta não acabe sendo ignorado em meio às toneladas de conteúdo disponíveis.

• E.B. – Acho que se levarmos em conta as exibições na internet as possibilidades são enormes. Mas, mesmo considerando vias tradicionais como a tevê, são razoáveis as possibilidades. Quinze anos atrás era impossível exibir um curta na televisão.

• F.S. – O meio de exibição tradicional em salas de cinema e espaços culturais continua sendo o circuito de festivais, que hoje acontecem em grande número no Brasil e reservam espaço para curtas ou são exclusivos para eles. O Ministério da Cultura mantém alguns projetos que abrem um bom espaço para os curtas, como o Cine Mais Cultura e a Programadora Brasil. Com a concentração de salas comerciais de cinema em apenas 8% do território nacional e a quantidade muito reduzida de obras audiovisuais brasileiras na tevê, a maioria dos filmes produzidos no país permanece inédita para grande parte de sua população.

• P.M. – Hoje o curta tem como principais janelas os festivais e a internet. Eu vejo o curta de duas maneiras: Como narrativa audiovisual curta comparável ao conto ou à crônica da literatura; ou como obra de estudo, como exercício de aprendizado. No primeiro caso, temos um produto de alto valor e pouca chance de comercialização e distribuição. No segundo caso, ele não precisa necessariamente ser visto.

O que poderia ser feito para dar maior visibilidade a esses filmes?

• R.U. – Tenho feito um circuito próprio, exibindo o meu filme seguido de debate em universidades. Já fui em quase todos os cursos de Comunicação em Curitiba e, ao viajar para festivais, estou aproveitando para fazer o mesmo nas faculdades de Cinema e Comunicação locais. Foram até o momento 13 exibições em universidades. Com esse circuito paralelo, além de alcançar um público maior, levo o filme para um espaço de debate que me parece mais interessante – pois permite uma conversa com mais calma. Acredito que não dá para esperar acontecer, ter o sistema ideal para distribuir. E as universidades, por exemplo, estão superabertas para isso. No caso de Curitiba, é lamentável não termos, ao contrário de tantas outras capitais, um festival de curtas-metragens. Uma exceção honrosa é o Curta 8, mas trata-se de um evento específico, contando apenas com filmes realizados na bitola super-8.

• E.B. – Acho que melhorar a visibilidade depende de um encontro de intenções entre canais exibidores (salas de cinema, canais de tevê) e realizadores. Mas se as intenções forem diversas, a internet está aí pra isso. Hoje é possível baixar um curta em alta resolução direto no aparelho de televisão e ver com ótima qualidade. Talvez o movimento mais importante a ser feito seja a regulamentação (criação ou alteração de leis, não sei bem) para que a comercialização de conteúdo audiovisual na internet seja, legalmente falando, mais fácil. Por outro lado, não acredito que com relação às salas de cinema e canais de tevê possamos pensar em qualquer forma determinista de viabilização, tipo cotas.

• F.S. – As distribuidoras de menor porte, que trabalham com circuitos alternativos de exibição ou menos voltados ao cinema puramente comercial, poderiam programar sessões de curtas por temática ou de um mesmo autor. Principalmente agora, com a aprovação de leis que privilegiam a regionalização, as tevês deveriam ver o curta como uma alternativa diversificada e atraente para o público. Emissoras como a RPC, no Paraná, e a RBS, no Rio Grande do Sul têm investido no formato curta com excelentes resultados.

• P.M. – Eu acredito na internet como fator de visualização e valorização dos bons conteúdos de curta-metragem. Acredito também que a boa janela estará nos aparelhos móveis.

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