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Denise Stoklos é provavelmente a atriz brasileira de teatro mais conhecida fora do país. Já se apresentou em 32 países. Ganhou elogios quase inimagináveis, como ser chamada de a melhor atração do Festival de Edimburgo, o maior do mundo. Apresenta-se em Nova Iorque, anualmente, desde 1987. Na China, chegaram a organizar um Festival Denise Stoklos, com uma retrospectiva de sua carreira. Ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Artes da Austrália. E assim por diante.

Mesmo assim, ela se considera antes de tudo uma iratiense. Recentemente, decidiu ceder aos pedidos de criar uma escola de teatro. Mas diz que só vai fazer se for na sua cidade natal. "Quem quiser fazer vai ter que ir para Irati", diz ela. Na verdade, ela acredita que, para entender o que ela faz nos palcos, é mais importante conhecer o Paraná do que teorias de dramaturgia. "Quando fui dar um curso nos Estados Unidos, mandei eles pesquisarem onde ficava Irati, estudar Paulo Freire, Milton Santos. Grotowsky, essas coisas, eles iam estudar em outras aulas", conta.

Há 20 anos, Denise só faz trabalhos à sua maneira: sozinha, escrevendo os próprios textos, com pouco "espetáculo" e preocupada principalmente com o corpo e com o conteúdo do que diz. É o tal teatro essencial, que ela define em suas atuações e em manifestos – para ler mais, acesse www.denisestoklos.com.br. Nunca se interessou por tevê, embora tenha feito uma telenovela. Acha que a telinha só serve para distrair, enquanto ela acredita que o teatro deve transformar as pessoas. E ajudar a construir um mundo mais justo. Afinal de contas, desde sua estréia, no temido ano de 1968, ela acredita que o teatro deve instigar as pessoas a pensar sobre o mundo capitalista em que vivemos. "Ainda me considero uma socialista", diz ela, em entrevista à Gazeta do Povo.

Agora, aos 55 anos, ela começa a pensar em novos rumos para a carreira. Cogita fazer peças num esquema mais tradicional e até voltar a fazer tevê. Mas o objetivo terá de ser sempre o mesmo. Quer fazer para provocar, para fazer pensar. Senão, nada feito. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida nesta semana.

Você está pensando em criar uma escola de teatro?Penso porque a procura é muito grande. Meu filho me fala muito nisso. Que a gente tem de devolver o que conseguiu para a comunidade. Eu vou fazer. A idéia é que a gente faça isso em Irati. E quem quiser fazer vai ter que ir para Irati. E eu acho que as pessoas vão. Quando a gente quer, a gente vai atrás. Falta só eu ter o tempo. Vamos fazer festivais internacionais de teatro solo. Nessas minhas andanças, conheci pessoas geniais, como a Victoria Chaplin, filha do Chaplin, o Steven Berkoff. E essas pessoas eu quero trazer para Irati, para se apresentar, fazer workshops. Porque eles não estão mais interessados em ir para São Paulo. Eles querem ir para onde tem árvore, para onde tem gente que olha no olho. É o lugar ideal para eu fazer esse centro.

Isso seria para quando?Meu irmão, que é prefeito agora lá, pretende construir um teatro para o centenário da cidade em 2007. A idéia é usar esse teatro.

Você parece orgulhosa de suas origens, o que não é comum no Paraná.Existe esse jeito paranaense de fazer as coisas, dos nossos avós imigrantes, de trabalho, trabalho, trabalho. Por outro lado, o paranaense é extremamente humilde, de não querer aparecer, como pode parecer que acontece com os gaúchos, numa maneira meio deformada de entender o jeito deles. Nós, paranaenses, ficamos ali sem o menor elogio à nossa natureza, mas com uma dedicação ferrenha a tudo o que a gente faz. "Eu preciso que a roça dê certo. porque eu vim lá da Ucrânia para poder comer e para poder dar comida para os meus filhos". E isso influencia a nossa arte. Extremamente.

E isso serve para o seu trabalho também?Isso me influenciou muito. Isso e o fato de eu ter sido criada numa cidade que não tinha teatro. Tinha circo e os filmes da Atlântida. Foram meus modelos de trabalho e até hoje são. Por um lado, a irreverência do mambembe, que arrasava com os valores do status quo. Por outro, a arte do palhaço, que é a arte de rir da insuficiência humana. Portanto, é o amor profundo por essa própria natureza humana. Você pode rir, pode usar o humor total.

Você acha que o seu trabalho é uma missão?Teatro é sagrado. É como pão e circo. Nasceu assim, é assim. É uma necessidade do homem. É o pão da alma. As pessoas estão lá ao vivo, numa peça que não se repetirá igual. Todos deixamos nossos filhos em casa, nossos namoros em casa, nossos livros fechados em casa. Então, tem de valer mais do que tudo isso, para que os filhos, os amores e os livros valham mais a pena quando a gente voltar do teatro. Isso eu sei desde o início da minha carreira, naquele momento em que nós éramos massacrados, quando o inimigo era visível, se vestia de verde e tinha títulos.

E hoje?Hoje o inimigo é a globalização, o neoliberal, e está introjetado em nós mesmos. A luta hoje é outra. Os jovens hoje são considerados alienados, mas não é nada disso. Eles não fazem passeatas, mas a revolução deles é no dia-a-dia. Eles são solidários, têm outros valores, fazem micropolítica. Eu aprendo isso com os meus filhos.

Você não tem interesse em fazer tevê? Você fez só uma novela (O Ninho da Serpente, na Bandeirantes 81/82) até hoje.Fiz porque o Antônio Abujamra disse que nenhuma atriz poderia deixar de fazer uma novela na vida. E foi maravilhoso. Porque assim eu sei porque que eu não quero fazer novela. Não naqueles moldes, pelo menos.ß Rogerio Waldrigues Galindo

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