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Não é injusto afirmar que a obra de Francis Hime é mais conhecida do que o próprio compositor. Algumas de suas canções, compostas em parceria com monstros sagrados da MPB, como Chico Buarque e Vinicius de Moraes, fazem parte da trilha sonora da vida de muitos brasileiros. E a lista dessas composições, acreditem, é longa.

Com Chico, assina as melodias de clássicos do calibre de "Trocando em Miúdos", "Atrás da Porta", "Pivete" e "Noiva da Cidade". De Vinicius, musicou os belos versos de "Tereza Sabe Dançar". Todas essas pérolas estão no CD e no DVD Francis ao Vivo, que acaba de ser lançado pela gravadora Biscoito Fino.

Engana-se, porém, quem acreditar que o lançamento limita-se ao formato "maiores sucessos." Francis, ao contrário de alguns cantores e compositores nacionais, não vive apenas de glórias passadas, não. Aos 68 anos, ele segue produzindo com invejável vigor. Seu último CD de estúdio, o belo A Arquitetura da Flor, é um dos melhores de sua carreira.

É desse trabalho que vem boa parte das novas músicas incluídas em Ao Vivo, gravado no Sesc Pompéia em maio de 2006, durante a turnê de divulgação do álbum. Muitas das faixas foram compostas em parceria com o poeta Geraldo Carneiro. E é da safra mais recente da dupla Hime e Carneiro o samba-canção "Mais-que-Imperfeito", música que abre Ao Vivo. Seus versos dizem: "É tudo que eu queria: essa canção/ Movida a dor, a sonho, a morte, a vida/ Essa paixão ainda ávida de tudo/ Da lua, da chegada e da partida...".

O tom intimista e reflexivo da canção tem muito a ver com o conjunto de composições que integram A Arquitetura da Flor, um trabalho camerístico e lírico. Conforme o show avança, no entanto, essas criações dividem espaço que sucessos da carreira de Hime, muitas delas bem mais alegres e festivas, como os sambas "Amor Barato" (parceria com Chico Buarque) e "Tereza Sabe Dançar", definida por Francis, durante o show, ser perfeita para embalar uma boa gafieira.

Com um repertório de 400 músicas, compostas desde 1963, Hime também demonstra estar em forma como cantor. Ele é um excelente intérprete de suas canções – e nada acomodado. Canções consagradas ganham o que ele chama de "novos figurinos". A opção por essa espécie de reciclagem tem a ver com a estética adotada por Francis após o disco Brasil, Lua Cheia, de 2003. "Passei a explorar uma sonoridade mais enxuta, em contraponto à grandiosidade orquestral que caracteriza a maioria dos meus trabalhos até então. Procurei valorizar melodia e harmonia, dando um tratamento despojado às canções", explica.

Hime divide os méritos com o competente grupo de músicos com os quais trabalha no show: Kiko Freiras (bateria), Jorge Helder (baixo, também integrante da banda de Chico Buarque na turnê Carioca) e Gabriel Improta (violão e guitarra), além, é claro, do inconfundível piano de Francis.

Em tempo: nos extras do DVD, making-of do show e documentário gravado no estúdio da Biscoito Fino. GGGGG

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