O Olhar de Neuza
Cia. do Abração (R. Paulo Ildefonso Assumpção, 725), (41) 3362-9438. Quarta-feira a domingo, às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Até 8 de setembro. Classificação indicativa: 16 anos.
Alívio ou tapa na cara quem escolhe é o espectador de O Olhar de Neuza, peça em cartaz até domingo na Cia. do Abração que enfoca o envelhecimento da mulher. Inspirada no livro A Mulher Que Cai, de Guido Viaro (neto do pintor), a peça confronta a poesia da existência, bem vestida no fado português, à aspereza das cobranças psicológicas, sociais e físicas que recaem sobre o universo feminino depois dos ___ (acrescente aqui a idade que julgar conveniente).
O público é recebido no foyer-barracão da companhia, local acolhedor no Jardim Social onde é até servido um chazinho. Conduzida pela cantora Karla Izidro, a audiência caminha sobre uma cama de folhas secas antes de se acomodar. Com inventividade, os elementos cênicos foram desenhados para revelar surpresas como a cortina que se transforma em figurino.
O cenário se desdobra em opções de espaço bem ocupados pela personagem desse monólogo, uma professora recém-aposentada e atormentada pelas transformações da menopausa, vivida por Fabiana Ferreira.
A atuação no palco e sobre as folhas que aludem à alma selvagem cantada por Clarice Lispector usa muito o trabalho físico buscado pelo grupo, com momentos extenuantes e pouco espaço para a monotonia.
O texto foi escrito em conjunto e inclui conflitos trazidos por Fabiana, com orientação da diretora Letícia Guimarães. Nos momentos de relato, que ela intercala com pensamentos líricos, Neuza deixa claro que não é feliz no casamento e que não tira prazer da vida em família. Por outro lado, suas recordações incluem alegrias e vontades que a transformam de novo numa menina.
Se Neuza e o mundo feminino sucumbirão ao poço que se abre a seus pés (como sugere o título de Viaro) ou seguirão o chamado da beleza corporificada pela música, fica à escolha de quem assistir.
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