Montesquieu, um dos homens mais inteligentes de seu tempo na Europa, resolveu escrever uma crítica à sociedade ocidental. Era o século 18 e comentários do gênero eram muito menos corriqueiros e bem-aceitos do que hoje. Para se proteger, ele criou personagens orientais que estariam vendo o nosso mundo de fora. E atribuiu as epístolas que escreveu a seus personagens. O resultado é o livro Cartas Persas, um clássico da época de Rousseau, Voltaire e outros intelectuais que ajudaram a mudar o mundo, criando o clima para a Revolução Francesa.
Mais de 200 anos depois, as críticas ao Ocidente se tornaram mais freqüentes, felizmente. E é possível falar abertamente sobre quase tudo. Mas a postura de Montesquieu continua válida. Por isso, o diretor Pedro Pires decidiu adaptar para o teatro parte das cartas. Em sua versão, o diretor resolveu falar, principalmente, sobre um dos temas abordados pelo escritor: a vida das mulheres, tanto no Ocidente quanto no Oriente. A peça, Querido Uzbek, tem ensaio aberto hoje e estréia no sábado.
"Foi curioso eu ter apresentado esse projeto em 2000, e só agora poder montá-lo", comenta o diretor. Segundo ele, no meio tempo, apareceu a novela O Clone, que tratava de temas semelhantes. "Se tivessem liberado o projeto logo em seguida, poderiam pensar que eu estava indo na onda da novela, mas não é o que aconteceu", afirma. A peça também inclui outros debates propostos por Montesquieu. Dividida em três partes, a montagem discute a vida tanto em um lado do mundo quanto no outro.
Pires, que é originário da dança, diz que esse é seu espetáculo mais convencional, embora tenha elementos de criação coletiva. "Também é minha última produção curitibana", diz o diretor, que está de partida para o Rio de Janeiro. "Ainda posso voltar para fazer trabalhos como convidado, mas estou de mudança", comenta.
Serviço: Querido Uzbek. Espaço 2 (R. General Carneiro, 814), (41) 3362-622. Texto e direção de Pedro Pires. Com Cíntia Perola Napoli, Fabiula Nascimento, Patrícia Saravy, Fabiano Amorim e Pedro Pires. De 4.ª a sáb., às 21 horas, e dom., às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia). Dia 17, ensaio aberto com entrada franca.
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