Sentado à mesa de "matabicho" (café da manhã, em português de Angola), o narrador e protagonista de Bom Dia Camaradas dá início ao seu dia repleto de atividades típicas de uma criança, como ir à escola e brincar com seus colegas. Nada de extraordinário acontece neste romance quase autobiográfico, mas são justamente os pequenos feitos infantis que fornecem matéria-prima suficiente para muita poesia. Poesia que Ondjaki maneja com maestria para fazer um retrato sócio-político de uma Luanda pós-independência, que ainda sofre as mazelas da guerra civil.
O escritor brinca com a língua portuguesa com a intimidade de uma criança que não tem medo de inventar palavras. Não à toa, seu narrador é um menino, pois somente o olhar infantil poderia testemunhar, ao mesmo tempo, de forma tão certeira e inocente, as dificuldades de seu país. Não é literatura engajada. É boa literatura, feita por quem tem consciência de seu papel como homem, escritor e angolano.
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