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Hipótese: um leitor quer comprar o mais novo livro do americano Philip Roth, Complô Contra América. Sujeito fluente em inglês, ele consulta o site da livraria Saraiva e fica surpreso. Na última sexta-feira, a versão nacional, da Companhia das Letras, saía por R$ 56,50, enquanto a estrangeira, uma caprichada edição em capa dura, poderia custar, no mínimo, R$ 36,30 (para clientes cadastrados).

Qualquer obra de Dan Brown, inclusive o Código da Vinci, custa R$ 39,90 pela brasileira Sextante. Edições estrangeiras saem por módicos R$ 26,50 (Livrarias Curitiba). "Módicos" para os padrões do mercado editorial brasileiro, em que qualquer livro com cento e poucas páginas ultrapassa facilmente a barreira dos R$ 30 (Bonequinha de Luxo, de Truman Capote, tem 152 páginas e preço de R$ 33).

Os exemplos bem poderiam servir a uma campanha publicitária de escola de inglês, mas revelam duas verdades. A primeira, que todo mundo já sabe, é que os livros custam caro no Brasil. A segunda é que, graças à isenção de imposto – pago por CDs e DVDs –, os livros estrangeiros podem competir em preço com os brasileiros. Além de chegarem ao país muito antes de suas traduções.

Às vezes, eles são mais baratos porque as versões pocket são menores e impressas em papel jornal. A editora britânica Penguin tem uma coleção de clássicos com esse formato da qual vários títulos estão entre os mais procurados da Fnac Curitiba. Entre eles Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e Retrato de um Artista Quando Jovem (ou melhor, Portrait of the Artist as a Young Man), de James Joyce. Todos por risíveis R$ 6,90. "Risíveis" pela mesma razão dos "módicos".

O idioma mais procurado é sempre o inglês. A curiosidade fica por conta dos segundos colocados. Na Livrarias Curitiba, o italiano tem a vice-liderança. Na loja de Joinville, por curiosidade, é o alemão. Na Fnac, o segundo lugar é do francês (cujo best seller é O Pequeno Príncipe), empatado com o espanhol – uma edição comemorativa de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha se destaca.

Segundo Leoni Pedri, diretora de marketing da rede Livrarias Curitiba, os pockets lideram as vendas de livros importados. A procura é significativa e não sofre influência do dólar. "Quem é leitor, compra, não depende do dólar", afirma. O público leitor de obras estrangeiras na Curitiba e na Fnac tem algo em comum: a preocupação com versões traduzidas.

"Elas temem que o texto em português desvirtue o original e, para ser fiel ao autor, buscam sempre ler no original", diz Leoni. Apesar disso, em uma loja (Curitiba) os best sellers atraem mais. Na outra, os clássicos têm apelo maior. De acordo com informações divulgadas pelo setor de livros da Fnac, a grande maioria de clientes que busca textos originais é de estudantes que querem aprimorar os conhecimentos de segunda língua.

O interesse por títulos do gênero conquistou outro espaço nas Livrarias Curitiba. Há alguns meses, todas as lojas da rede realizam clubes de conversação, reunindo leitores para conversar em inglês (Curitiba), francês (Florianópolis), etc. A Fnac trabalha também com títulos infantis, procurados por pais que querem incentivar seus filhos a aprender outros idiomas.

Em número de exemplares vendidos, alguns números chegam a impressionar. No mercado nacional, qualquer livro que venda mais de três mil unidades já é considerado um sucesso comercial. Nas Livrarias Curitiba, O Código Da Vinci em inglês vendeu 1.377 exemplares. O novo do Harry Potter, 1.223. Apesar do interesse por autores mais populares, quem lê em mais de uma língua tem, obviamente, a possibilidade de acessar livros que não existem no Brasil ou que estão fora de catálogo há muito tempo. Esse talvez seja o melhor exemplo do ditado segundo o qual "conhecimento é poder".

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