Estante
Confira uma seleção de títulos publicados recentemente no Brasil:
A Última Névoa, de María Luisa Bombal
País: Chile, 2013 Tradução de Laura Janina Hosiasson. Cosac Naify, 223 págs., R$ 26. Romance.
Os Surdos, de Rodrigo Rey Rosa
País: Guatemala, 2013 Tradução de José Rubens Siqueira, Benvirá, 264 págs., R$ 29. Romance.
Deixa Comigo, de Mario Levrero
País: Uruguai, 2013. Tradução de Joca Reiners Terron, Coleção Otra Língua, Rocco, 160 págs., R$ 27. Romance.
Segundos Fora, de Martín Kohan
País: Argentina, 2012 Tradução de Heloísa Jahn. Companhia das Letras, 256 págs., R$ 39,50. Romance.
As Hortensias, de Felisberto Hernández
País: Uruguai, 2012. Tradução de Pablo Cardellino Soto e Walter Carlos Costa. Grua Livros, 224 págs., R$ 39,50. Novela/Contos.
Pássaros na Boca, de Samanta Schweblin
País: Argentina, 2012 Tradução de Joca Reiners Terron. Benvirá, 224 págs., R$ 29,90. Contos.
Só para Fumantes, de Julio Ramón Ribeyro
País: Peru, 2007 Tradução de Laura Janina Hosiasson. Cosac Naify, 304 págs., R$ 51. Contos.
Meio século após o chamado boom das letras latino-americanas que revelou ao mundo clássicos como Cem Anos de Solidão e O Jogo da Amarelinha , a literatura do continente volta à tona no único país da região que não fala espanhol.
Não se sabe bem o motivo do interesse renovado, mas ele existe, a ponto de editoras brasileiras criarem selos dedicados exclusivamente ao tema. É o caso da Rocco, que além de publicar a obra do mexicano Carlos Fuentes e apostar em nomes menos conhecidos, como o argentino Washington Cucurto, lançou em maio o selo Otra Língua, em um projeto conjunto com o escritor e tradutor Joca Reiners Terron.
Dois títulos saíram até agora Deixa Comigo, do uruguaio Mario Levrero, e Asco, do hondurenho Horacio Moya , mas a proposta é editar sete obras neste primeiro ano, entre clássicos e contemporâneos. "Publicar Deixa Comigo era a solução ideal para introduzir a obra de Levrero no Brasil, que tem de tudo: textos de humor, contos experimentais, autoficção, palavras cruzadas e paródias de policiais", diz Terron, curador da coleção.
Para a gerente editorial da Rocco, Vivian Wyler, mais do que um interesse crescente na produção dos países vizinhos, existe um interesse diversificado. "Se ao falarmos de literatura hispano-americana a referência era apenas a Cortázar, Borges e García Márquez, é muito bom hoje termos em circulação obras de Macedonio Fernández, Felisberto Hernández e Alejandro Zambra", enumera.
Segundo Terron, o "fenômeno" tem a ver com a saída de cena dos cânones ligados à ideia de realismo mágico, que traduzia o olhar idealizado da América sob uma perspectiva europeia. "García Márquez quase não publica mais ficção inédita. Vargas Llosa parece mais interessado em sua carreira de ator. Novos escritores de qualidade surgiram em todos os países de língua espanhola, além de alguns terem se estabelecido com sua obra incontornável, como Levrero, César Aira e Roberto Bolaño", cita.
A editora Benvirá, do grupo Saraiva, é outra que tem se destacado na publicação de hispano-americanos, sobretudo os da novíssima geração, como o guatemalteco Rodrigo Rey Rosa e as argentinas Pola Oloixarac e Samanta Schweblin. Mas o tal movimento em direção a um "outro boom" pode ter iniciado com a coleção Prosa do Observatório, da Cosac Naify, que entre 2006 e 2010 colocou nas estantes seis títulos incomuns, entre eles a antologia Só para Fumantes, do peruano Julio Ramón Ribeyro.
Para a tradutora e organizadora do volume, Laura Janina Hosiasson, a descoberta tardia de Ribeyro se deve, em parte, ao ofuscamento pelo seu conterrâneo Mario Vargas Llosa. "Enquanto Llosa desenvolvia romances totalizantes, que criavam universos amplos e atrelados a um acontecer de grandes proporções, Ribeyro preferiu as pequenas estórias, de protagonistas fracassados. Esse tom menor funcionou contra ele nos anos 60 e 70, quando leitores e editores procuravam os grandes romances latino-americanos. Mas a história pouco eufórica dos tempos atuais tem feito soprar ventos a favor dessas estórias tchekhovianas, que têm atraído a atenção de leitores e críticos", analisa.
Este mês, chega pela Cosac Naify sua tradução para as novelas A Última Névoa e A Amortalhada, da chilena María Luisa Bombal (1910-1980), editadas em um único volume. "Sua escrita é das mais singulares pela estranha mistura de sonho e realidade, pelo tom etéreo e a força dramática das situações criadas", define a tradutora.
Intercâmbio
"Nos anos 70, os autores latino-americanos eram os que mais se publicavam no Brasil e havia um desejo de reforçar a identidade da região. Hoje, esse interesse é difuso. Assim como queremos conhecer a nova literatura chilena, também queremos olhar para a literatura contemporânea da Armênia, dos países periféricos, da África", opina Carlos Eduardo de Magalhães, da editora Grua.
Em 2012, a paulista Grua e a Yaugurú, de Montevidéu, lançaram em parceria a coleção Boca a Boca, dedicada a estreitar a produção literária de ambos os países. Enquanto seis títulos de autores brasileiros são editados lá, outros seis de uruguaios chegam aqui. Os primeiros são As Hortensias, de Felisberto Hernández, e Torquator, de Henry Trujillo. Ainda este ano saem A Alma do Mundo, de Felipe Polleri, e Mudança, de Fernando Cabrera, todos em edição bilíngue.
O projeto tem apoio da Biblioteca Nacional do Uruguai, que comprou 300 exemplares das obras de autores brasileiros e os destinou a escolas e bibliotecas do país. Já a tradução do espanhol foi financiada pela Biblioteca Nacional brasileira.
Tradução
Um estímulo que vem facilitando a edição de autores em língua espanhola no Brasil são os programas de apoio à tradução, como o Sur, do governo argentino cujos recursos serviram para verter ao português boa parte dos títulos da Biblioteca Borges, da Companhia das Letras, por exemplo. No último edital, a curitibana Arte e Letra aprovou seu projeto de tradução de El Casamiento de Laucha, de Roberto Payró.
A expansão de cursos na área também contribui para o intercâmbio literário. "Cada país hispano-americano tem seu próprio vocabulário e modulação específica. Hoje, universidades brasileiras expandiram seus cursos em diferentes línguas e vêm elaborando reflexões teóricas decorrentes da prática antes, quase que exclusivamente autodidata. Estamos há alguns anos diante de um maior rigor no resultado do texto traduzido no Brasil", afirma Laura Hosiasson.
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