Mafalda é uma eterna menina de 6 anos. Foi um dos principais personagens das tirinhas de jornais entre 1964 e 1973, quando era publicada em muitos diários latino-americanos e europeus. Hoje, está consagrada graças a sua postura adulta e dura diante do mundo, pontuada por uma observação cortante e muitas vezes irônica. Em uma das tiras mais famosas, por exemplo, Mafalda está voltando de férias, viajando de trem, enquanto observa a paisagem: "Olhar pela janela do trem é como ver o país pela televisão. Que lástima que a televisão tenha melhores programas que o país", diz, defrontada com imagens de miséria através do vidro do vagão.
Mesmo depois de mais de três décadas, os comentários da menina utópica parecem valer em muitos lugares do mundo. Ela tornou-se poliglota, falando mais de 30 línguas, inclusive o grego e o chinês. É também a criação mais famosa de Joaquín Salvador Lavado, o Quino, cuja vida, obra e método de trabalho são tema de uma exposição que será aberta hoje no Centro Cultural Solar do Barão, em Curitiba.
Nascido na província de Mendoza, na Argentina, em 1932, Joaquín logo ganhou o apelido Quino para distingui-lo de seu tio Joaquín Tejón, que era quadrinista. Perdeu a mãe em 1945, quando começou a cursar a Escola de Bellas Artes de Mendoza. Largou o curso logo depois, quando também faleceu seu pai. Tinha 16 anos e havia decidido escrever histórias cômicas. Mudou-se para Buenos Aires, onde entrou no serviço militar e, depois, manteve colaborações esporádicas nos jornais locais.
Apenas em 1960 publicaria o primeiro livro, Mundo Quino. Poucos anos depois criaria Mafalda, entre outros personagens, demonstrando grande simpatia por gente comum. Assim como em Penauts (Snoopy, Charlie Brown e sua turma), de Charles Schulz, os personagens-crianças eram capazes de fazer observações adultas, mas representavam também a ingenuidade e a pureza de um idealismo transformador do mundo. Eram fortemente pautadas pela realidade imediata, sem arroubos escapistas e fantásticos como aqueles do personagem Calvin, de Bill Watterson. A censura, a miséria, a desigualdade e a televisão eram temas recorrentes. O tom já foi descrito como uma mescla de pessimismo e humanismo.
Quino, que atualmente vive entre Madri e Buenos Aires, foi convidado, mas não pôde comparecer à mostra de Curitiba. Chamada Simplesmente Quino, a exposição reúne 140 trabalhos do artista, entre desenhos de Mafalda e de outros personagens, trabalhos de humor, ilustrações de arte e livro editados. Também poderão ser vistos vídeos de animação de Mafalda e do Quinoscópio, somando 104 histórias em exibição permanente.
Para Guilmar Vieira Silva, coordenadora do Solar do Barão, o evento vai possibilitar ao público um leitura coerente da obra de Quino. "É um conjunto maravilhoso pela sua representação da cidadania, pela observação sempre contundente, e uma enorme capacidade de síntese", afirma.
O evento abre com uma mesa-redonda sobre o tema Ética e Cidadania na Obra de Quino, com a participação dos cartunistas Solda e Dante Mendonça, da professora Maria José Justino, da artista plástica Estela Sandrini e da sobrinha de Quino, Julieta Colombo, que virá representando o artista. No mesmo dia, também no Solar do Barão, serão abertas as exposições Quadrinhofilia, com trabalhos de José Aguiar, e Solda Vê Tevê, do artista gráfico Luiz Antonio Solda. Amanhã, às 19 horas, nas três salas do Memorial de Curitiba, será inaugurada a mostra comemorativa dos 24 anos da Gibiteca, com trabalhos de 38 quadrinistas de Curitiba. Todas as exposições têm entrada franca.
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