A autora Silvia Bittencourt: união da história e do jornalismo| Foto: Andreas Draguhn/Divulgação

Noite de autógrafos

A Cozinha Venenosa – Um Jornal contra Hitler

Silvia Bittencourt. Três Estrelas, 392 págs., R$ 49,90. Lançamento hoje, às 19 horas. Universidade Positivo – Bloco 01 (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3317-3000. Entrada franca.

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Em poucas horas, na noite do dia 9 de março de 1933, tropas nazistas destruíram praticamente toda a estrutura e os 50 anos de história do pequeno, porém tradicional, jornal Münchener Post, principal publicação social-democrata da Baviera, na Alemanha. Desde os anos 1920, quando Adolf Hitler começou a trilhar sua ascensão ao poder, o periódico questionava suas intenções, e se tornou o grande inimigo dos nazistas na imprensa. Apesar da importância dessa história, ninguém havia se dedicado a contá-la. Foi a jornalista brasileira Silvia Bittencourt, radicada na Alemanha desde 1991, quem se debruçou sobre os arquivos do Post, o que resultou no livro A Cozinha Venenosa – Um Jornal contra Hitler (Três Estrelas). A obra será lançada em Curitiba hoje, na Universidade Positivo, em parceria com o Museu do Holocausto.

Silvia, que estudou História em Colônia (Alemanha), nunca havia ouvido falar do periódico alemão antes de o diretor do jornal Folha de S. Paulo – do qual é colaboradora –, Otávio Frias Filho, lhe contar que leu sobre o Post na obra Para Entender Hitler, de Ron Rosenbaum. No entanto, o autor não se debruça sobre o jornal, mas menciona que foram os jornalistas do Münchener os primeiros a acompanhar a carreira política de Hitler. "O Otávio pediu para eu confirmar se ninguém na Alemanha tinha escrito a respeito e passei alguns dias pesquisando. Você encontra a história, até mesmo na internet, mas de forma resumida. Ele perguntou se eu aceitava o desafio de pesquisar o tema e aceitei no mesmo momento", contou a autora, em entrevista por telefone, de São Paulo, para a Gazeta do Povo – no momento, ela está de férias no Brasil.

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A reportagem histórica fala sobre os mais de 10 anos da batalha que o Münchener Post empreendeu contra o líder nazista e seus seguidores. O jornal já alertava um ano antes de Hitler assumir como chanceler sobre a "solução final" reservada aos judeus. Silvia lembra que a publicação, ao longo dos anos, nunca abandonou a sua campanha, mesmo com a crescente popularidade de Hitler. "Quando ele virou chanceler e os primeiros decretos começaram a instalar a ditadura na Alemanha, o jornal não abrandou em nenhum momento. Eles não pararam de criticar e alertar que a Alemanha caminhava para um precipício."

Pesquisa

Após o convite de Frias Filho, a jornalista iniciou a pesquisa e, pela primeira vez, uniu o trabalho histórico com o jornalístico. Na primeira etapa, Silvia passou meses lendo sobre Hitler e a história da imprensa da Alemanha. Depois, iniciou a pesquisa de campo em Munique, que incluiu buscas em arquivos públicos e entrevistas com fontes, como netos e bisnetos de jornalistas que atuaram no Post. "Não foi tanto pelas informações que tinham, mas para saber um pouco sobre o que aconteceu com a família, se ainda existem pessoas ligadas ao partido [Social-Democrata]", explica. Da ideia inicial até o lançamento, que ocorreu no mês passado, em São Paulo, foram três anos de trabalho – hoje, o lançamento será seguido de um bate-papo com a autora e com o diretor do Museu do Holocausto, Carlos Reiss.