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Não é sempre que um diretor do gênero de terror ganha um prêmio "sério" como o Britsh Independent Film Award. Só por isso, Neil Marshall e seu Abismo do Medo já mereceriam atenção. Mas o longa, a partir deste mês nas locadoras, tem mais a oferecer do que uma realização bem conduzida. Desde a Bruxa de Blair (1999), não se via um filme tão tenso e angustiante.

Projetado internacionalmente por Dog Soldiers – Cães de Caça (2002), Marshall estava insatisfeito com os rumos de sua produção e do próprio cinema de horror – segundo ele, cada vez mais autoparódico. Decidiu então rodar um trabalho enxuto, sem efeitos especiais extravagantes, piadinhas para quebrar o gelo ou a participação de atores conhecidos. O resultado é um filme cheio de sustos, sangue e tripas, mas que não desrespeita a inteligência do espectador.

A história começa de forma violenta, com um acidente de carro que mata o marido e a filha de Sarah (Shauna Macdonald), uma praticante de esportes radicais. Um ano depois da tragédia, ela parte para as Montanhas Apalache, nos EUA, a fim de explorar uma caverna com outras cinco amigas aventureiras. Como é de praxe, a primeira meia hora só serve para apresentar as personagens (por sinal, muito bem desenvolvidas). Mas o que vem a seguir...

Mal desce por uma fenda (o título original do filme é The Descent, "A Descida"), o grupo já se depara com o primeiro problema: um desmoronamento que obstrui a entrada. Para piorar, a líder da expedição, Juno (Natalie Mendoza), revela que aquela é uma caverna até então inexplorada. Sem mapa e com poucos equipamentos, o sexteto inicia uma busca desesperada por uma saída alternativa, enquanto as relações de amizade começam a se deteriorar. Principalmente entre Sarah e Juno, que não ajudou a amiga quando ela mais precisava, depois do acidente.

Como desgraça pouca é bobagem, as moças se deparam com uma horda de criaturas humanóides, adaptadas para viver no escuro. Detalhe: os feiosos são carnívoros de carteirinha. E em meio ao "salve-se quem puder", a aventureira que não colocar para fora seus instintos de sobrevivência mais primitivos vai virar comida de monstro.

Dizendo assim, até parece engraçado. Felizmente, o diretor consegue superar o trash e manter a audiência tensa até a última cena (totalmente fora dos padrões do cinemão, diga-se). Esqueça a "metáfora sobre a nova condição feminina" apontada por alguns críticos. Abismo do Medo é um verdadeiro pesadelo claustrofóbico transportado para tela. Para quem gosta do gênero, um prato cheio. GGGG

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