Serviço
Kafka Escrever É um Sono Mais Profundo do Que a MorteQuando: Quinta a sábado, 21h; domingo, 19h. Até o dia 12 de julhoQuanto: Uma lata de leite em póOnde: Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavancanti, 1222 São Francisco, Curitiba (PR). Telefone: (41) 3321-3358)Confira o serviço completo no site Guias e Roteiros RPC
A imaginação é um peso, por vezes um torturador, do qual não se pode nem se deve fugir, na peça Kafka Escrever É um Sono Mais Profundo do Que a Morte, apresentada pelo Grupo Delírio no Teatro Novelas Curitibanas.
Recorrendo à convencionalidade da caixa-preta, que distancia a fábula daqueles que a assistem, o diretor e dramaturgo Edson Bueno forja um ambiente familiar castigado pela realidade cruel de perseguição étnica, no qual teria crescido o autor de Metamorfose, em que mesmo os escapismos fantásticos são assombrados pelo sangue derramado nos conflitos humanos.
O texto, além de poder ser fruído como uma obra ficcional independente por aqueles menos familiarizados à vida e à escrita do checo Franz Kafka (1883-19240), trava um dialogo permanente com os fatos biográficos que se tornaram célebres. Como, por exemplo, a relação conturbada com o pai, recriado em interpretação do próprio Edson, que carrega na voz grave para erguer uma figura imponente, opressora, que arrepiava o filho em um duplo fascínio (desejoso de agradá-lo) e temor. E o cabo de forças entre as influências judaica, checa e alemã que o importunavam devido à intolerância reinante, que resultava no acuamento de sua família em um gueto de Praga.
Também a literatura de Kafka se infiltra na dramaturgia, em referências mais ou menos explícitas ao ser humano rebaixado à condição de inseto cujo ventre deve ser arrastar pelo chão frio e aos labirínticos (e frequentemente injustos) meandros da lei, tirados de Metamorfose e O Processo. Ao fim, a dramaturgia abandona a alusão em uma materialização indiscutível.
Se uma ou outra aresta pende do denso texto, por seu verniz literário, é suavizada na boca do elenco, que conjuga atores veteranos, como o diretor e Regina Bastos, no papel da mãe de Franz, a jovens igualmente talentoso.
Marcel Gritten dá conta de iludir a ingenuidade maculada pelo medo do menino escritor, incorporada nos gestos retraídos e olhos assustados, enquanto Martina Gallarza impressiona pela variedade de expressões com as quais nutre sua diabólica toupeira, fruto da capacidade daquele pequeno inventor de digerir a solidão e o pânico por meio da fantasia, que é o que leva tantos ao ofício da escrita, no fim das contas.
Servida de um cenário sólido e enegrecido que transporta para aquele mundo fantástico e nebuloso, reforçado pela maquiagem e figurino, e das qualidades encontradas no texto, na direção e nas interpretações, a montagem de Kafka desponta como um dos melhores trabalhos da produção teatral curitibana deste ano. (LR)
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