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Música

O porta-voz dos esquisitos

Ele é a anti-estrela da música. Franzino, feioso, melancólico, atormentado, cerebral... Os adjetivos que definem Thom Yorke certamente não constam da cartilha roqueira tradicional. Mas foi assim, correndo por fora, que o cantor do Radiohead cativou multidões nos últimos anos. Para os fãs, é como se Yorke fosse uma espécie de porta-voz dos esquisitos. Um símbolo vivo da inadequação. E, cá entre nós, quem nunca se sentiu um ET pelo menos uma vez na vida?

Acima de tudo, Thom Yorke é um artista. Sempre ativo, não larga seu laptop, "envenenado" com softwares musicais. Entre um show e outro do Radiohead, compôs as nove canções que integram seu primeiro álbum-solo, The Eraser, previsto para chegar às lojas européias e americanas no próximo dia 11. Como é de praxe, o CD já está disponível nos sites de troca de MP3 pela internet.

Trabalho pessoal

Mas não se trata de um produto ansiosamente esperado, tampouco priorizado por uma grande gravadora. The Eraser foi anunciado há poucos meses, sem muito alarde, e sai pelo selo de música eletrônica XL Recordings. Ou seja: é um trabalho extremamente pessoal e que não representa o fim do Radiohead, como muitos se apressaram em dizer. Aliás, tanto os integrantes como o produtor da banda, Nigel Godrich, dão as caras no CD. "Eu só queria ver o que iria sair. São coisas que faço quando estou aborrecido", explicou Yorke, de 37 anos, à revista Rolling Stone.

The Eraser lembra muito os discos do UNKLE, projeto eletrônico do qual o cantor britânico participa eventualmente. Também traz ecos de nomes de frente da produção digital, como Boards of Canada e Aphex Twin, além de reverenciar o pai da música ambient, Brian Eno. E, como não poderia deixar de ser, tem os dois pés fincados no experimentalismo pop do Radiohead, principalmente dos álbuns Kid A e Amnesiac. A diferença é a limpeza que dá o tom do CD: de ponta a ponta, o que se ouve é a voz de Yorke sobre uma base minimalista e hipnótica.

As letras continuam a tratar de um mundo frio e mecanizado, onde a solidão é a maior inimiga do homem. Aqui, no entanto, o foco está nos relacionamentos – e no fim deles, com direito a recados desaforados para a pessoa amada (odiada?). "Se você sabe todas as respostas/ Por que pergunta?", provoca Yorke na faixa-título. "Eu quero sair/ E fazer as coisas funcionarem", ele desabafa em "Atoms for Peace". Já "Black Swan" é uma declaração de independência: "Não me importa o que o futuro guarda/ Porque eu estou aqui e agora/ Você não pode me tocar com seus dedos".

A surpresa fica por conta de "Harrowdown Hill", pequeno tratado sobre a incomunicabilidade. "Pensamos as mesmas coisas ao mesmo tempo/ Só não conseguimos fazer alguma coisa sobre isso", diz um trecho da letra. Musicalmente, a faixa também é um achado, com Yorke totalmente solto, cantando uma melodia pop e dançante. Uma prova de que não se pode ser esquisito o tempo inteiro – nem mesmo o muso de todos eles. GGG1/2

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