Italianos amam ópera. Portanto, nada mais natural que um pequeno grande filme, como A Moça da Valise, de Valerio Zurlini, tenha emprestado de um dos clássicos de Giuseppe Verdi o nome de sua protagonista. Se na monumental obra lírica do compositor a personagem-título é uma princesa etíope reduzida à escravidão no Egito Antigo, a heroína do filme pós neo-realismo de Zurlini também é, de certa forma, subjugada por uma ordem social que se recusa a lhe dar o direito à dignidade, à felicidade.
Cantora de cabarés, Aida (Claudia Cardinale, mais linda do que nunca) é, no fundo, uma garota ingênua, romântica e sonhadora, apesar de ser considerada por quem a cerca, sobretudo os homens, pouco mais do que prostituta. De certa forma, ela lembra a patética e terna meretriz de Noites de Cabíria, vivida com maestria por Giulietta Masina no clássico de Federico Fellini realizado quatro anos antes.
Movida por seu desejo por uma vida melhor, Aida cai na lábia de Marcello, playboy rico e mal-intencionado que a faz acreditar ser um agente capaz de transformá-la em estrela. Ele apenas queria aproveitar-se da garota, para depois descartá-la sem piedade. Quando se vê abandonada, com os bolsos vazios e apenas uma valise nas mãos, ela tenta reencontrá-lo e acaba conhecendo, sem saber, seu irmão mais novo, Lorenzo (um jovem Jacques Perrin, ator que vive o cineasta maduro de Cinema Paradiso).
O adolescente, orfão de mãe e criado por uma tia, se apaixona por Aida. A protagonista, linda, simples e espontânea, representa uma válvula de escape para o tédio da rotina em que vive, limitada ao colégio, aulas particulares com um padre e dias inteiros trancados numa mansão.
Zurlini, um dos grandes e mais subestimados diretores italianos de sua geração, constrói a relação entre Lorenzo e Aida de forma delicada, sem pressa. A ambigüidade da personagem central faz com que os rumos da história sejam imprevisíveis: em nome da sobrevivência, de uma chance de sair da miséria, ela é capaz de tudo.
Claudia Cardinale tinha apenas 23 anos quando fez o filme e sua maturidade como atriz surpreende. A câmera de Zurlini, seduzida por sua inquestionável beleza, lhe proporciona momentos memoráveis ao longo da trama. Perrin, por sua vez, também brilha. Aos 19 anos, convence como o garoto bem-comportado e carente de 16, que perde o rumo e vive o primeiro amor por uma mulher proibida, que nele desperta tanto desejo quanto compaixão. E, acima de tudo, a vontade de transpor os limites de sua vida burguesa e ver o mundo do outro lado do muro social que o separa de gente à deriva como Aida.
A Moça da Valise, que agora chega ao mercado brasileiro pela Versátil, é um belo filme de formação, gênero cinematográfico que já legou alguns dos longas-metragens mais tocantes já feitos, como Antoine e Colette (de François Truffaut), O Verão de 42 (de Robert Mulligan), Quase Famosos (de Cameron Crowe) e o brasileiro Houve uma Vez Dois Verões (de Jorge Furtado). GGGG
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