Angústia, medo, compaixão, alegria, reflexão. "Maria Miss", que estreou no Festival de Curitiba na segunda-feira (1º), é um espetáculo que transporta o público ao sertão de Guimarães Rosa, provocando os mais diversos sentimentos.
A peça, baseada no conto "Esses Lopes", se passa no sertão nordestino e conta a história de Maria Miss, sempre violentada pelos homens da família Lopes, até que planeja sua vingança.
O ambiente intimista do Teatro Paiol dispensava cenário elaborado e criava proximidade do público com a cena. Em poucos minutos de apresentação, Tania Castello, no papel da estabanada e esperançosa protagonista, já havia conseguido transportar a plateia para o sertão e torná-la sua cúmplice nos planos de vingança. O som dos cachorros latindo assustados com tiros parecia vir ali dos fundos, do outro lado da cerca, próximo ao barraco. Tudo invisível, mas, ainda assim, palpável.
Plínio Soares e Daniel Alvim fazem o papel dos homens da família Lopes de maneira brilhantemente repugnante. Com figurino perfeito de roupas surradas do cangaço aparentando alguns dias sem banho, causam nos presentes a mesma sensação de medo e asco da protagonista durante as cenas de abuso sexual. Uma única cena mais forte bastou para permitir sutileza nas demais e me fazer repensar se queria mesmo estar ali. Era essa a provocação, e assim Maria ganhou dezenas de cúmplices e deu o troco em nome da plateia.
Sujo, com dentes horríveis e a cara torta, Daniel Alvim encarava a plateia de perto e me fez agradecer por não estar na primeira fila e também duvidar que seu olho esquerdo abria normalmente.
Sob direção exímia de Yara de Novaes, o texto literário e milimetricamente pensado parecia sair com naturalidade, provocando tensão e altas risadas na plateia, que comemorava cada vitória de Maria. "Ó procê vê", diz ela, satisfeita.
Ao fim, Regina Vizzotto Menezes, de 52 anos, encantada com a peça, destacou a atuação da protagonista e disse que, já pela sinopse, foi o espetáculo do festival que mais se interessou em ver. "Ela fala sobre uma realidade que a mulher brasileira vive até hoje", disse. Às Marias Miss de todo o Brasil.
Em tempo
Ainda dá tempo de comprar seu ingresso para a apresentação desta terça-feira (2), às 21 horas no Teatro Paiol. Para mais informações, acesse o Guia Gazeta do Povo.
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