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Espaços culturais ajudaram aumentar a circulação de pessoas pelas ruas do bairro | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Espaços culturais ajudaram aumentar a circulação de pessoas pelas ruas do bairro| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Não é apenas uma impressão: a primeira década do século 21 em Curitiba foi marcada por um esvaziamento das ruas por parte dos pedestres – principalmente das classes A e B, que encontraram nos shoppings centers uma alternativa segura e climatizada para os passeios de fim de semana. Enquanto a maioria dos comerciantes assiste impassível às transformações causadas por esse movimento (a mais notável sendo a morte dos cinemas de rua), um grupo de irredutíveis empresários do Batel esforça-se, não sem sucesso, para trazer de volta às calçadas os pedestres curitibanos, por meio de atividades culturais.

E não, não se trata do famigerado Batel Soho, embora seu lugar de início, a Praça da Espanha, seja responsável por esse recomeço, mas sim, de um de seus vizinhos: o quadrilátero que se estende da Rua Comendador Araújo à Avenida Vicente Machado, passando pela Presidente Taunay. Ali se concentra um dos blocos mais culturais da cidade. As galerias SIM e Simões de Assis, que dividem o espaço da Casa de Pedra com a Livraria Arte & Letra, têm como vizinhos os dois últimos cinemas privados com programação alternativa da cidade: o Espaço Itaú de Cinema e o Cineplex Batel, nos shoppings Crystal e Novo Batel, respectivamente. Do outro lado do Shopping Novo Batel, há o Teatro Fernanda Montenegro e a livraria Navegadores, dois centros importantes de cultura, principalmente para as crianças – a livraria infantil especializada em literatura de língua portuguesa foi inaugurada há pouco tempo e já desempenha um papel importante na região. Por fim, na Vicente Machado, dois espaços comerciais que abrem suas portas para obras de arte: o estúdio de tatuagem Teix e o James Bar, que dividem a rua ainda com a galeria Endossa, local de comercialização de produtos de designers e artistas independentes. Os estabelecimentos da rua mobilizam-se vez ou outra no evento Vicentina, organizado sazonalmente com atrações musicais e horário estendido durante o fim de semana.

Nas ruas

O galerista Waldir Simões de Assis instalou sua galeria na Casa de Pedra em 1984, e conta que embora não tenha havido um movimento consciente para criar o polo cultural do quarteirão, já havia uma noção de que o lugar era propício: "haviam muitas galerias por aqui, como a Ida e Anita, na Alameda Dom Pedro II, a Momento Arte, em frente ao Shopping Novo Batel, e a Bico de Pena, na esquina. A vocação do lugar talvez seja um pouco atávica". Como fatores estimulantes para isso, Simões de Assis aponta a presença de área verde, a topografia plana e a posição estratégica em meio a um bairro que ainda conserva os antigos casarões da elite curitibana do começo do século 20. "O Batel sempre pareceu um bairro interessante, e as pessoas estão gostando de circular por aqui", completa.

Eventos realizados conjuntamente pelos empresários também ajudaram a aumentar a circulação de pessoas pela região. É a opinião de Jo Maciel, do estúdio Teix, que integra a organização do Batel Soho e participou da primeira edição do Vicentina. "A longo prazo, a visitação do meu estúdio aumentou, e recebo pessoas de todas as idades. Percebi não só que estamos colocando mais gente em contato com artistas expressivos, como também que o público está mais interessado, mais ávido por novidades, e isso também é fundamental. Não adiantaria nada o que estamos fazendo sem essa contrapartida do povo". Jo não nega a intenção comercial da empreitada, mas afirma que o fundamental ainda é levar cultura para o público: "A pessoa não sai de casa para comprar uma obra de arte, e sim para ver as novidades, o que acontece de interessante na cidade. Um estabelecimento traz público para o outro, e o consumo acaba sendo consequência disso".

Thiago Tizzot, da Livraria Arte & Letra, realiza com frequência eventos em sua loja e diz se empenhar para tornar o ambiente nos fundos da Casa de Pedra um espaço de leitura e lazer. Ele comemora a retomada das ruas e diz que esse processo passa também por questões urbanísticas. "Enquanto no shopping as lojas são obrigadas a se manter em um padrão, nas ruas os estabelecimentos podem manter sua individualidade, deixando o cenário mais interessante. A iluminação pública também melhorou na região, fazendo com que as pessoas se sintam mais seguras para andar por aqui à noite também. Agora, as pessoas estacionam o carro e circulam a pé", conta o livreiro. Simões de Assis, arquiteto de formação, concorda e conclui: "Na arquitetura, temos diversos exemplos no mundo de elementos culturais inseridos em uma parte da cidade que acabam por mobilizar o seu entorno. Essa região tem grandes parceiros no cinema, no teatro, na gastronomia e nas artes plásticas, a tendência é que isso transforme o quarteirão".

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