US$ 30,4 milhões
foi o total de bilheteria acumulado por Cidade de Deus em todo o mundo.
3,5 milhões
foi a soma de espectadores do longa-metragem no Brasil.
Produção
Diretores vão a Cannes
Cidade de Deus 10 Anos Depois tem as bênçãos de Meirelles, mas o diretor preferiu não produzi-lo para evitar que se tornasse um filme "chapa branca". "Ele tem nos ajudado no que pode, mas preferiu não ter uma partcipação maior. Pediu que a gente não deixe de fora depoimentos em que os atores falem mal dele", conta Luciano Vidigal, um dos diretores do documentário, entre risos.
Até agora, o documentário contou com duas fontes de recursos: o Canal Brasil e o ator, diretor e produtor carioca Bernardo Melo Barreto, do elenco de Paraísos Artificiais.
A produção também foi um dos cinco projetos aprovados por um edital da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, cujo objetivo é levar projetos de filmes, neste mês, ao Festival de Cinema de Cannes, onde poderão ser negociadas pré-vendas e coproduções internacionais.
O cineasta Luciano Vidigal tinha 20 anos quando foi contratado, em 2000, pela produção de Cidade de Deus para fazer um mapeamento das favelas do Rio de Janeiro, com a missão de ajudar a encontrar atores não profissionais para o filme de Fernando Meirelles. O diretor, também ator, integrava na época o grupo de teatro Nós do Morro, iniciativa que deu origem a um centro cultural na comunidade do Vidigal, na zona sul carioca.
INFOGRÁFICO: Veja a trajetória dos principais atores do filme
VÍDEO: Assista ao clipe promocional de Cidade de Deus 10 Anos Depois
Passados 12 anos, Luciano, diretor de uma das histórias que integram o longa-metragem 5x Favela Agora por Nós Mesmos (2010), atualmente se dedica a um projeto que promete ser um dos acontecimentos cinematográficos do ano. Realiza, ao lado de Cavi Borges, o documentário Cidade de Deus 10 Anos Depois, cuja primeira exibição está prevista para outubro deste ano, no Festival do Rio.Em entrevista à Gazeta do Povo, concedida em Recife durante a última edição do Cine PE Festival do Audiovisual, Luciano contou que o processo de garimpagem de crianças e jovens negros e mulatos, com idades entre 8 e 21 anos, para o elenco jovem de Cidade de Deus, o levou a fazer testes em vídeo com cerca de 1,5 mil candidatos, depois reduzidos aos 200 selecionados para participar das oficinas ministradas pela preparadora de elenco Fátima Toledo e pelo diretor e ator Guti Fraga, fundador do Nós do Morro. "Fui eu que encontrei o Leandro Firmino, que fez o Zé Pequeno. Ele era da comunidade da Cidade de Deus mesmo e, quando o Fernando [Meirelles] e a Kátia [Lund, codiretora] viram o teste dele em vídeo, ficaram impressionados. Ele disse na hora que ele iria entrar no filme", conta.
Diferentes caminhos
Luciano Vidigal, a partir dos depoimentos que já conseguiu gravar até agora, divide os atores que participaram de Cidade de Deus (leia mais no quadro ao lado) em três grupos. No primeiro, estão os que "agarraram a oportunidade dada pelo filme" e conseguiram construir uma carreira sólida. Entre eles estão Alice Braga, hoje com vários filmes internacionais no currículo, o também cantor e compositor Seu Jorge, nome de ponta da música brasileira, e Thiago Martins, que se tornou um dos astros mais requisitados de sua geração, atualmente no ar como o jogador de futebol Leandro, na novela Avenida Brasil, da Rede Globo.
No clipe promocional do documentário, exibido no último Cine PE, Alice, que é sobrinha da atriz Sônia Braga, reconhece ter tido muita sorte. "Aquela hora do beijo ajudou muito. Foi o frame que foi para o pôster dos Estados Unidos. Mas eu nunca pensei que fosse tomar a dimensão que tomou", disse, referindo-se à cena em que sua personagem e o protagonista Buscapé (Alexandre Rodrigues) "ficam" na praia. Para Thiago Martins, Cidade de Deus teve enorme importância, porque "mostrou para a sociedade e para o meio artístico de verdade, que nas comunidades haviam pérolas".
Negros
Algumas dessas "pérolas", no entanto, ainda lutam para conquistar e manter seu espaço. A maioria é negra. Para Roberta Rodrigues (que viveu a personagem Berenice), hoje contratada da Globo, "para você fazer um trabalho no Brasil, tem que ser escrito assim: advogado negro ou advogada negra. Não é advogado. Advogados são todos os outros. Eu sou advogada negra. Ou a médica negra. Tem esse limite, né?"
Jonathan Haagensen, o Cabeleira, fez alguns papéis em novelas, peças teatrais e filmes, mas ainda enfrenta dificuldades para conseguir trabalhos com regularidade. No documentário, ele diz que Cidade de Deus o ajudou, mas também o atrapalhou em alguns momentos, o estigmatizando de certa forma. "Como eu faço para sair desse filme, como eu faço para ser o Jonathan ator?", foi uma pergunta que ele conta ter se feito várias vezes.
Talvez quem explique melhor esse conflito seja Darlan Cunha, que viveu o personagem Filé com Fritas e depois seria o Laranjinha da série e do longa Cidade dos Homens: "A galera da 'pista' acha que Cidade de Deus é um documentário da nossa vida, e a do morro acha que a gente está representando muito, entendeu?", diz o ator, que protagonizou uma das cenas mais chocantes do filme, na qual seu personagem é pressionado por Zé Pequeno a atirar em outros garotos. Para aprender a ser, na palavras do vilão, "bicho-homem".
O terceiro grupo citado por Luciano é o dos que não conseguiram engatar uma carreira. Renato de Souza, que vive Marreco, irmão de Buscapé e um dos integrantes do Trio Ternura, hoje trabalha em uma oficina mecânica no Rio e aparece no documentário sem um dos dentes da frente. Ele diz ter saudades do breve momento de celebridade e que deseja uma nova chance. "Eu gosto muito do pão com ovo. Mas, naquele momento, eu estava sentindo o gostinho do caviar", confessa.
Outro integrante do Trio Ternura, ao lado de Haagensen e Souza, Jefechander Suplino, o Alicate, que abandona o crime para abraçar a religião, está desaparecido. Os diretores não conseguiram encontrá-lo, e há suspeitas de que esteja morto.
Já Rubens Sabino, o Neguinho, parceiro de maldades de Zé Pequeno no filme, foi preso depois da estreia de Cidade de Deus, mas reaparece, dando seu depoimento no documentário, em frente da delegacia onde ficou encarcerado ainda não é certo se ele vai autorizar o uso da sequência na montagem final.
Alguns atores, cujos nomes Luciano Vidigal preferiu não revelar, ainda estão relutantes em falar e chegaram a pedir cachê para aparecer no filme. "Mas não vamos pagar, não."
CADERNO G | 8:21
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