Parceiras evitam retorno ao crime
O papel da mulher e os valores familiares são fundamentais dentro do ambiente carcerário, acredita a cineasta Joana Nin, que mergulhou nesse universo há mais de dez anos. "Se você for olhar as estatísticas, verá que o índice de reincidência do crime no Brasil passa dos 90%. Um homem que ficou 5, 10, 20 ou 30 anos na cadeia sem ter uma família a apoiá-lo, vai fazer o que quando sair de lá? Procurar quem lhe dê trabalho a maioria, ilícito. Mesmo os que desejam escapar disso têm muita dificuldade, pois são procurados por antigos comparsas e, sem dinheiro ou incentivo para modificar seu rumo, acabam optando novamente pelo crime."
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Joana frisa que sua visão não é demagógica há presos que, mesmo tendo esposa e família, voltam a cometer delitos. "Vi casos de mulheres que são verdadeiros pilares na vida dos maridos após eles cumprirem pena. Sem elas, tudo valeria. E eles acabam não arriscando, porque não querem perder a mulher, que pode desistir do cara que vacilar de novo. Eu gostaria que o meu filme [Cativas Presas pelo Coração] trouxesse amor para a questão carcerária." Com o curta-metragem de 2004, Visita Íntima, alguns olhares foram modificados, conta a cineasta. "Tem agentes penitenciários que, depois de assistir ao curta, passaram a olhar as mulheres que visitam seus presos de outra forma."
Uma cena forte, porém tratada com delicadeza, marca o documentário Visita Íntima, da cineasta Joana Nin, lançado em 2004: uma mulher se agacha seis vezes, nua, diante de uma policial antes de entrar na área de visitas da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, para ver o marido. Na época, 17 personagens contaram suas vidas no curta-metragem. Oito anos depois, Joana quer descobrir o que aconteceu com elas e relatar isso em Cativas Presas pelo Coração, longa-metragem que já está em produção e tem filmagens marcadas para janeiro de 2013.
VÍDEO: Confira um vídeo de "Visita Intima"
Por enquanto, a cineasta e sua equipe (Sandra Nodari e Sheylli Calleffi, assistentes de direção, e Luciano Coelho, fotografia, além dos sócios de sua produtora, a Sambaqui Cultural) entrou em contato com três das mulheres retratadas no curta uma delas é Mara, que criou cinco filhos sozinha e esperou 33 anos até o marido ser solto. "Ela passou esse tempo visitando a cadeia todos os domingos. Faltou em apenas um deles, porque estava na maternidade. É muita força e dedicação. Não posso dizer se ela será ou não personagem do longa, vai depender dessa fase de reaproximação", contou a cineasta, em entrevista à reportagem.
Outro foco será explorar as cartas enviadas pelos presos a suas parceiras, e vice-versa. Em Cativas, a cineasta não pretende revisitar todas as histórias, mas selecionar as melhores para serem narradas. Elas serão filmadas novamente na PCE, durante três semanas, e dentro das casas das personagens. "Para ser um filme interessante, precisamos contar pelo menos duas ou três [histórias]. Eu queria ter feito este longa há mais tempo, mas a captação de recursos é difícil, especialmente num projeto como o meu: filme de mulher, sobre mulher." Outro agravante, segundo ela, é o fato de a produção se passar no ambiente carcerário. "Na ficção, isso é muito pitoresco, mas as pessoas têm uma certa dificuldade em aceitar que o sistema penitenciário existe de verdade como ele é. Empresas privadas às vezes preferem temas mais amenos."
Foram cinco anos até Joana conseguir captar os recursos necessários, mas o mergulho neste universo começou há 11 anos: em 2001, ainda repórter de televisão em Curitiba, ela cobriu uma rebelião na PCE com duração de duas semanas. "Percebi que muitas mulheres, pelo menos umas cem, dormiam na porta da cadeia em barracas. Conversando com elas, soube que isso era recorrente, se repetia todas as semanas. Não conseguia pensar em como colocar isso na televisão, e também achava que merecia algo que ficasse por mais tempo veiculando. Fui procurar ajuda e resolvi criar um projeto de documentário." Joana passou a frequentar festivais de cinema, formatou o filme e ganhou um edital da Petrobras para rodar o curta. Parou tudo o que estava fazendo, inclusive a carreira jornalística, para se dedicar exclusivamente ao filme, que ganhou 21 prêmios e foi exibido em 12 países.
Recursos
Orçado em R$ 630 mil, Cativas está com 50% do orçamento (R$ 300 mil) captado via Conta Cultura (projeto da Secretaria de Estado da Cultura que promove parceria entre empreendedores culturais e empresas interessadas), com patrocínio da Sanepar. "Com a filmagem agendada para janeiro de 2013, acredito que seja menos difícil integralizar o restante do dinheiro", espera Joana. Com produção quase toda paranaense (somente a montagem será no Rio de Janeiro, feita por Jordana Berg, que montou todos os filmes de Eduardo Coutinho), a cineasta quer investir na distribuição, fazendo o longa chegar a grandes festivais e aos cinemas. "Isso trará o tema sistema penitenciário para a pauta do dia, e ele terá cumprido sua função."
The Visit (Visita Íntima) from Joana Nin on Vimeo.
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