Mostra no Masp faz um apanhado da carreira de Freud| Foto: Reprodução

Não eram belos os personagens de Lucian Freud. Ou talvez a beleza, para ele, esteja mais atrelada à verdade. Um dos pintores mais importantes do século 20, Freud, que morreu há dois anos em Londres, onde se radicou depois de fugir da Alemanha nazista, fez fama e fortuna retratando pessoas que encontrava no dia a dia, de sua mulher ao açougueiro.

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Também retratou personagens do underground londrino, como o travesti Leigh Bowery, quase sempre nus e em poses que fogem do padrão.

São gordos, suados, carecas. De pernas abertas, o sexo exposto, rugas e marcas de expressão exacerbadas, a pele como espécie de histórico sulcado de vidas nada fáceis.

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Pinturas

Numa mostra que abriu semana passada no Masp, em São Paulo, está um apanhado geral da obra de Freud, neto de Sigmund Freud (pai da psicanálise). São seis pinturas de quase todas as fases de sua carreira, dos anos 1940 aos anos 1980, e mais de 40 gravuras e fotografias de seu ateliê, onde seus modelos chegavam a posar ao longo de anos para uma única tela ficar pronta. A exposição fica em cartaz até 13 de outubro.

Uma delas foi Sue Tilley, fiscal do serviço social britânico, que posou nua para Freud. Seu retrato, uma mulher gigantesca, seus volumes de pele e gordura transbordando de um sofá kitsch, foi arrematado em leilão por R$ 75,4 milhões há 18 anos.

Estripulias

Mas não é só o preço do quadro nem o peso de Tilley que denunciam a grandeza de Freud. Artista que despontou no auge das estripulias dos Jovens Artistas Britânicos, entre eles Damien Hirst e Tracey Emin, Freud resistiu aos truques de mercado e se manteve figurativo, no sentido quase clássico do termo, fiel ao retrato acima de tudo.

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Esse e outros retratos nada convencionais acabaram tirando o artista da reclusão.

"Uma apreciação completa da obra de Freud só foi possível nos últimos anos", diz Richard Riley, curador da mostra no Masp. "Até pouco tempo atrás, ele era visto como uma figura reacionária à arte contemporânea, um excêntrico fora da realidade."

Mas é a realidade que grassa nas telas de Freud mais do que em qualquer obra de seus contemporâneos. "Ele tinha fascínio pela textura da pele e montanhas de carne humana", diz Riley. "É um retrato inabalável e sem medo da forma humana verdadeira."

Todos os poros

David Hockney, artista britânico que posou para Freud, lembra com incômodo da sensação de ser examinado até o último poro, com Freud aproximando o seu rosto do dele ao trabalhar no retrato.

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Mas o artista não começou pintando dessa forma. Seus primeiros quadros, na opinião de Teixeira Coelho, curador do Masp, eram alegorias simbólicas, longe do hiper-realismo que o consagraria umas décadas mais tarde.