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Entre o cinema de Hollywood e a tevê americana, melhor ficar com a segunda. Enquanto os filmes de massa ficam cada vez piores – baseados em idéias recauchutadas e temáticas infatilóides –, a nova safra de séries televisivas conquista a audiência pensante com uma certa dose de ousadia e provocação. Vide o sucesso de público e crítica de Desperate Housewives, Will and Grace e Lost, não por acaso os programas com maior número de indicações ao Emmy Awards, considerado o Oscar da telinha nos Estados Unidos. A 57.ª edição da premiação acontece hoje, no Shrine Auditorium, em Los Angeles, com transmissão ao vivo para o Brasil pelo canal pago Sony Entertainment Television, a partir das 21 horas.

Desperate Housewives ("Donas de Casa Desesperadas"), indicada a 15 troféus, aborda a vida de quatro mulheres de um bairro de classe média americano. Por trás da vidinha aparentemente pacata, elas escondem dramas, frustrações e, principalmente, segredos capazes de deixar o mais careta dos ianques de cabelo em pé. Já veterana, a sitcom Will and Grace, também concorrendo a 15 prêmios, enfoca o cotidiano de um "núcleo familiar" inusitado, formado por dois gays e duas mulheres heterossexuais de Nova Iorque. Lost ("Perdidos"), por sua vez, recebeu 12 indicações e mostra os dilemas pessoais de um grupo de sobreviventes de um desastre aéreo obrigado a conviver em uma ilha misteriosa.

Diferentes de tudo o que se costumava ver na televisão, os seriados atuais são uma resposta da (boa) dramaturgia ao fenômeno dos reality shows. E por trazerem à tona temas pouco discutidos abertamente, também representam uma cutucada no way of life norte-americano, ainda mais próximo do conservadorismo desde o início da Era Bush.

Para as emissoras de televisão, o êxito de séries recentes como Lost, Desperate Housewives, 24 Horas, A Sete Palmos e Deadwood equivale a um respiro de alívio após o fim de títulos do calibre de Seinfeld, Friends, Sex and the City, Frasier, etc – todas já consideradas clássicas. A onda agora é investir em programas mais "adultos", de preferência estrelados por astros egressos do cinema (leia matéria abaixo). É claro que as sitcoms e seriados adolescentes ainda têm seu mercado, mas aproximar-se do público órfão dos bons filmes da tela grande parece ser a nova obsessão dos executivos de tevê.

Tragédia em foco

Comandado este ano pela comediante Ellen Degeneres, o Emmy não poderia deixar de tocar no assunto da hora nos EUA: a tragédia causada pelo furacão Katrina no sul do país. Os apresentadores e concorrentes subirão ao palco usando magnólias (flor que representa os estados da Louisiana e do Mississippi, os mais afetados pela catástrofe natural) presas às roupas. Ao longo da cerimônia, os espectadores serão orientados sobre como fazer doações às vítimas. Ellen, aliás, é natural de Nova Orleans, cidade-símbolo do problema que atinge milhares de americanos.

O clima da premiação, no entanto, não será necessariamente de tristeza. Um dos momentos mais aguardados do show é uma sátira ao reality show musical American Idol (o Fama de lá, mas com uma audiência muito maior), na qual duplas de celebridades vão interpretar temas de seriados. Entre os escalados estão William Shatner (Boston Legal) e a diva da ópera Frederica von Stadle, Donald Trump (O Aprendiz) e Megan Mullally (Will and Grace) e Gary Dourdan (CSI: Crime Scene Investigation) e a cantora Macy Gray. Em meio ao baixo astral dominante, nada como um pouco de autoparódia para animar a maior festa da tevê.

Serviço: Emmy Awards 2005. Hoje, a partir das 21 horas, no canal pago Sony Entertainment Television.

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