Claudio Botelho: o renascimento dos musicais no Brasil passa por suas mãos| Foto: Divulgação

Duas décadas foram necessárias para que Claudio Botelho e Charles Möeller construíssem seu reino. Em um momento que Botelho descreve como "obscuro" no teatro nacional, centrado em encenações intimistas, com elencos reduzidos e muita an­­gústia em cena, a dupla apostou no brilho de um gênero de certa forma desprezado por muitos críticos e por segmentos da classe teatral: o musical. Uma ousadia. Passados 20 anos, parte dessa resistência persiste, porém o público, profissionais da área e até mesmo quem escreve sobre o que povoa os palcos no país reaprenderam a degustar essa modalidade cênica, popular em sua essência.

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Como a história do teatro musical brasileiro passa por Botelho e Moeller, nada mais natural do que a celebração dessas duas décadas de trabalho conjunto fossem comemoradas à altura. A jornalista Tânia Carvalho acaba de lançar Os Reis do Musical, livro da coleção Aplauso (editada pela imprensa Oficial do Estado de são Paulo), obra que documenta com fotos e textos essa trajetória. E Botellho, responsável pelas letras em português do Brasil de um enorme leque de canções que povoam as montagens nacionais de sucessos como A Noviça Rebelde, Company, Chicago e Miss Saigon, resolveu fazer sua celebração particular com o espetáculo Versão Brasileira, que estreia amanhã, no Guairinha, dentro da Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba.

Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, Botelho disse que depois de trabalhar em cerca de 30 espetáculos, que, de uma forma ou de outra, passaram por suas mãos, sentiu a necessidade de resgatar essa história, colocando-se em cena como intérprete. O formato é o de um recital intimista, com piano (Marcelo Castro, também diretor musical), sopros (Edgar Duvivier) e cordas (Thiago Trajano). Mas ele vai além: estabelece com a plateia uma espécie de bate-papo, ao longo do qual revela bastidores da produções e histórias relacionadas às canções.

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O roteiro de Versão Brasileira é dividido em blocos temáticos e organizados de uma forma mais ou menos cronológica. Um deles será repleto de versões para musicais que ficaram em cartaz somente em São Paulo, como Miss Saigon, Les Misérables e O Fantasma da Ópera, todos transpostos para o português por Botelho, mas sem a chancela da dupla.

Noutro bloco, é a vez dos mu­­sicais que estreiaram no Rio de Janeiro e, em sua maioria, tiveram a produção e direção assinadas por ele e Möeller: A Noviça Rebelde, O Despertar da Primavera (agora em cartaz em São Paulo), Avenida Q e 7 – O Musical, este último o primeiro inteiramente autoral da dupla, que contou com partitura inédita de Ed Motta, letras de Botelho e texto e direção de seu fiel escudeiro.

Versões

Sobre o trabalho de versão, mote de boa parte do espetáculo que chaga amanhã a Curitiba, Botelho afirma que sempre faz questão absoluta de fazer suas letras caberem dentro da música original, sem se permitir alterações melódicas que acomodem seus versos. Há também respeito total à métrica e às rimas. O letrista, en­­tretanto, faz questão de enfatizar que uma das partes mais importantes do seu trabalho é criar versões e não traduções literais. Para isso, nunca tira de foco o público brasileiro, que precisa ser apresentado àquele espetáculo, à sua história, dando-lhe um paladar local.

Mas também há espaço para composições 100% nacionais de Versão Brasileira. Há todo um bloco dedicado aos musicais brasileiros. Pontifica no segmento do recital a figura do compositor e escritor Chico Buarque, lembrado com números de musicais por ele assinados, ou que contam com suas músicas, e encenados pela dupla: Na Bagunça do Teu Coração (1996), Suburbano Coração (2002) e A Ópera do Malandro (2003).

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Serviço

Confira a programação completa do Festival de Curitiba. Acesse http://guia.gazetadopovo.com.br/teatro.