• Carregando...

O cinema de ficção brasileiro parece ter renascido em 2005. Depois da boa safra 2002/2003, puxada por filmes como Cidade de Deus, O Invasor e Amarelo Manga, o gênero passou por um período de baixa, perdendo espaço em criatividade e originalidade para os documentários, que acabaram tornando-se os principais destaques dos recentes festivais nacionais de cinema.

O marco da nova produção ficcional brasileira foi o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, encerrado há dez dias, que apresentou diversos longas que estarão em cartaz nas salas brasileiras de novembro em diante. Cidade Baixa (de Sérgio Machado) Cinema, Aspirinas e Urubus (de Marcelo Gomes), A Máquina (de João Falcão) e Crime Delicado (de Beto Brant) foram os principais destaques, sendo premiados pelo júri oficial e pelo público do evento carioca.

A expectativa segue agora para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que se inicia na próxima quinta-feira. Além das películas consagradas no Festival do Rio, a 29.ª edição do tradicional festival paulista vai apresentar outras novidades brasileiras do ano na área de ficção, como Pro Dia Nascer Feliz (de João Jardim) e Pizza (de Ugo Giorgetti), entre outros.

O momento é de certa euforia com a qualidade de alguns dos trabalhos já citados, que têm claras possibilidades de agradar o público, conseguindo boas bilheterias se tiverem lançamentos bem planejados. Mas esta é exatamente a questão: como os filmes nacionais podem furar a tradicional barreira da exibição que sofrem atualmente?

A situação atual do mercado de exibição nacional coloca as fitas em dois extremos opostos – ou ultrapassam a marca de um milhão de espectadores, geralmente produções com o selo Globo Filmes, de muito marketing, como 2 Filhos de Francisco; ou conseguem atingir apenas pouco mais de 200 mil espectadores, marca de filmes mais autorais. Nenhuma produção tem alcançado o meio termo, um público entre 400 e 600 mil pessoas, números conquistados há não muito tempo por Bicho de Sete Cabeças ou O Homem Que Copiava.

"Estamos tentando estratégias paralelas para furar a barreira e chegar a esse número, mexendo com a internet, criando promoções, mas é sempre difícil para os filmes com vocação mais autoral como o nosso", diz o diretor Sérgio Machado, que deve lançar Cidade Baixa em 4 de novembro – inicialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e nas principais capitais nordestinas, com um número entre 30 e 40 cópias, distribuídas pela Videofilmes.

O baiano acredita que seu filme tem um viés muito forte de comunicação com o público jovem, principalmente da periferia – a fita apresenta um triângulo amoroso formado pelos atores Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga. Ele vê boas possibilidades para a produção depois da repercussão da participação no Festival de Cannes e da recepção favorável da crítica.

Distribuição

Também participante de Cannes 2005, Cinema, Aspirinas e Urubus encontra-se na mesma situação da produção baiana. O pernambucano Marcelo Gomes informa que ainda não definiu a data de lançamento do filme, que deve acontecer ainda em novembro – a distribuição será da Imovision, com 15 ou 20 cópias. "Estamos pensando no circuito de arte e também em cinemas mais populares. Temos condições de atingir vários tipos de públicos. Há algumas semanas, ganhamos um prêmio de difusão da Petrobrás, que vai ajudar muito no lançamento", relata o diretor.

Gomes confirma o convite para a participação em 63 festivais estrangeiros e a venda do filme para dez países (está em negociação com outros dez). Machado informa que Cidade Baixa estará em 40 mostras internacionais e que já fechou distribuição comercial da produção nos EUA, na Inglaterra e em outros países da Europa. Esse interesse estrangeiro pode ser uma compensação caso as fitas não atinjam uma bilheteria muito grande no Brasil.

"Vejo dois caminhos possíveis para o cinema brasileiro. O primeiro é dos filmes de massa, como o da Globo Filmes. Os outro são aqueles que se comuniquem com o mundo inteiro, que podem fazer 200 mil espectadores no Brasil, outro tanto na Europa, mais um pouco nos EUA. Dessa forma, acabam se tornando tão lucrativos quantos os primeiros", comenta Machado.

Gomes destaca a continuidade da produção para que o cinema brasileiro estabeleça um patamar de qualidade, ajudando na sua distribuição: "Em qualquer tipo de trabalho, mesmo o artístico, quanto mais se produz, mais eficiente ele fica. Com a produção constante, a tendência é de as coisas melhorarem". "Não sei se é utopia minha, mas, se continuarmos produzindo, haverá uma depuração natural, os melhores vão surgir e se estabelecer", completa Machado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]