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João Turin Vida, Obra,
Arte Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999 Centro Cívico), (41) 3350-4400. Inauguração hoje, às 20 horas (entrada franca na abertura, funcionamento apenas do salão principal). Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 18 horas. R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). Até 2 de novembro.
Quando menino, o historiador, pesquisador e crítico de arte José Roberto Teixeira Leite costumava brincar com a escultura Luar do Sertão, do artista paranaense João Turin (1878-1949), no zoológico da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Na época, ele não tinha ideia de quem fosse Turin. Há pouco mais de um ano, mergulhou em sua trajetória para criar a exposição João Turin Vida, Obra, Arte, que será inaugurada hoje no salão nobre o "olho" do Museu Oscar Niemeyer (MON), além do livro homônimo de sua autoria, que será lançado na mesma ocasião.
SLIDESHOW: Veja imagens da mostra sobre João Turin
A mostra é grandiosa: traz 130 bronzes fundidos de matrizes originais em gesso do acervo do escultor natural de Morretes, e dá ao espectador a oportunidade de ter uma ideia ampla da trajetória de Turin. Fora a possibilidade de ver, e inclusive tocar, muitas das obras (uma delas é a escultura Frade, o presente do governo brasileiro para o papa Francisco em sua visita ao Brasil, no ano passado).
O visitante mergulhará no mundo de Turin: na parede, com a sua linha do tempo, chama atenção o contraste do suporte eletrônico com os manuscritos do artista a iluminação, de Beto Bruel, também se diferencia do trabalho de luz usado geralmente em exposições. Há, ainda, uma réplica de tamanho reduzido da Casa Paranista (projeto da década de 1920, que esteve em pé na cidade até os anos 1970), uma das ideias da caprichada cenografia de Daniel Marx.
"Quando entramos nesse olho, pensamos: Meu Deus, como vamos preencher isso? É gigantesco, esse olho é muito menor por fora. É imenso, e está totalmente preenchido, com cada coisa no seu lugar. Quem entrar aqui vai levar um choque", acredita o curador Teixeira Leite.
Um dos exemplos dessa surpresa comentada por Leite é que a casa foi ambientada com elementos do ateliê de Turin (que ficava na rua Coronel Dulcídio). "As pessoas poderão ver uma reprodução bastante fiel, feita a partir de fotos", conta Samuel Ferreira Lago, que comprou o acervo de Turin há cinco anos. Lago criou uma fundição para reproduzir os bronzes, trabalho técnico que teve o comando do escultor Elvo Benito Damo.
Dentro do salão, uma igrejinha abriga em seu interior a Pietá, feita por Turin em 1917 para a Igreja de Saint Martin, na França. Bombardeada na Segunda Guerra Mundial, mesmo seriamente danificada, a escultura permaneceu intacta a equipe de Lago foi ao país, tirou um molde da escultura e realizou uma nova fundição, chamada em escultura de novo original.
Segundo Teixeira Leite, existe a hipótese de que, para criar os traços da Virgem Maria com Jesus morto nos braços, Turin teria se inspirado na história da bailarina Isadora Duncan (os dois filhos morreram afogados no Rio Sena). "É plausível, porque ela era uma mulher fantástica, e ele vivia numa Paris maravilhosa. Todos os gênios se entrecruzaram naquele momento." Em sua temporada na Europa, Turin foi contemporâneo de artistas como Auguste Rodin, Modigliani, Pablo Picasso, entre outros. A geometria atenuada, segundo o curador, é a principal influência do período estrangeiro em sua obra.
Legado
Samuel Lago frisa que o principal objetivo da exposição é mostrar o escultor de forma mais ampla, não somente o Turin conhecido por obras no espaço público (como Tiradentes, no Marco Zero). "Ele foi muito mais do que isso. Foi escultor, pintor, desenhista excepcional, um homem múltiplo. Trazer à luz esse talento todo é importante para a autoestima do paranaense, de mostrar que temos ícones."
Entrevista
"Turin foi um artista imenso"
José Roberto Teixeira Leite, historiador, pesquisador e curador da exposição João Turin Vida, Obra, Arte
José Roberto Teixeira Leite, curador de João Turin Vida, Obra, Arte acredita que a exposição será uma revelação da obra do artista, "até mesmo para o Paraná." Leia os principais trechos da entrevista:
De qual ponto o senhor partiu para pensar a curadoria?
Recebi o convite há um ano e meio. Eu conhecia muito pouco de Turin, confesso. A referência que eu tinha dele era como animalista, mas descobri muito mais do que isso. Vi a gestação de cada gesso por uma equipe extraordinária, que trabalhou como uma orquestra. E nasceu isso, incrível. Em 50 anos que vejo exposições, nunca vi uma como essa. Dedicada a um artista com tanto amor, com tanta minúcia e competência.
Como foi a pesquisa para escrever o livro ?
Estive várias vezes em Curitiba e tive acesso a muita documentação, ele guardou muita coisa. Tinha milhares de documentos, de desenhos. No livro eu trago a importância de Turin, pois os artistas brasileiros desse tempo são muito esquecidos, jogados na vala comum do academicismo.
O senhor acha que o reconhecimento de João Turin ficou muito restrito ao Paraná?
Sem dúvida. Toda a história da arte brasileira, a crítica, é focada no Rio de Janeiro e São Paulo. A exposição vai ser o começo de uma retomada de um interesse imenso por sua obra.
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