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| Foto: Sossella

A história de Caninos Brancos – um lobo criado na selva, capturado e domesticado, que precisa aprender a sobreviver em meio à fome, à exclusão e a violência – é uma bela metáfora para a realidade de crianças e adolescentes que vivem em comunidades pobres do Brasil.

Este certamente foi um dos motivos que levou o diretor Marcelo Munhoz a adaptar o clássico do escritor inglês Jack London e encená-lo com um grupo de crianças da Vila das Torres e do Parolin. Ele é um dos coordenadores do projeto Olho Vivo, que oferece ao público em geral oficinas de cinema e vídeo.

O elenco da montagem faz parte do projeto Minha Vila Filmo Eu, criado há três anos como uma espécie de "departamento de ação social" do Olho Vivo, com o objetivo de oferecer gratuitamente a mesma programação de cursos de cinema e vídeo para jovens das duas comunidades.

A peça estreou no início deste ano e, desde então, vem sendo vista por um público carente de produtos culturais, em locais como o Clube de Mães da Vila das Torres, unidades da Fundação da Ação Social (FAS) da prefeitura de Curitiba, um asilo e um hospital psiquiátrico.

Mas, o belo trabalho de interpretação do elenco-mirim, já visto pela reportagem do Caderno G, em fevereiro deste ano, extrapola as fronteiras da exclusão.

A montagem entra em cartaz no Teatro Cleon Jacques, a partir de hoje, às 20 horas. A peça foi contemplada no edital de Difusão em Teatro e Circo 2007/2008, do Fundo Municipal da Cultura, dentro do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura da Prefeitura de Curitiba.

"Ter estes adolescentes no palco, representando para moradores de outras comunidades, impregna a peça de significados. Mas queremos que a cara do pessoal da Vila (das Torres) também seja vista fora dela", diz Munhoz.

Na semana passada, o elenco de Caninos Brancos viveu uma nova experiência. Viajou a Belo Horizonte para participar do TEIA, maior encontro da diversidade cultural no Brasil, que reuniu, de 7 a 9 de novembro, centenas de pontos de cultura do país, ou seja, iniciativas sócio-culturais como o Minha Vila Filmo Eu, apoiados pelo Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura.

O espetáculo começa com uma projeção de vídeo em que os nove adolescentes se apresentam e mostram o lugar em que vivem. Ao longo da peça, imagens da cidade, desenhos e sombras interagem com os atores para construir a narrativa. Mas, o que mais impressiona é a interpretação concentrada do elenco-mirim, que conta com a presença de seus professores no palco, os atores Alessandra Flores e Vinícius Mazzon. Eles "entram nos personagem" – expressão utilizada pelas próprias crianças – com a fúria de quem deseja mudar a sua própria realidade, sem, no entanto, se deixar domesticar.

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Serviço: Caninos Brancos. Teatro Cleon Jacques (R. Mateus Leme, 4.700). De quinta a domingo, às 20 horas. O ingresso é uma lata de leite em pó. Até 25 de novembro.

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